De novo...

 

A frase de ontem era de um ilustre desconhecido para a maioria dos mortais. Só os tarados por computador sabem quem é Jack Sams. Eu nunca tinha ouvido seu nome até assistir a excelente série de três documentários sobre a história do computador pessoal, o personal computer ou PC. A série "O Triunfo dos Nerds", em inglês, apareceu na tevê a cabo, não sei com que tradução . Os filmes são apresentados pelo autor da série e do livro em que se baseia: Robert X. Cringely, no papel de nerd fracassado, porém testemunha do nascimento, no famoso Vale do Silício, de uma nova indústria.

O nascimento é que fascina na história. O encanto está em poder acompanhar, ainda que indiretamente, o surgimento do novo. O deslumbramento diante das coisas que surgem com a pujança que caracteriza o inédito - seja um bebê, uma idéia ou um computador - nos deixa perplexos, sem saber o que fazer com a novidade ou para que poderá servir. Esses momentos são únicos, cheios de vitalidade - os únicos que realmente valem à pena!

Pena que sejam tão raros e, em pouco tempo, o que era uma explosão de energia e vida possa se transformar em mesmice e rotina. Ontem veio uma mensagem com uma série de piadas sobre o casamento. A síntese de todas era uma só: uma delícia num primeiro momento, ele se transforma num inferno depois. Quando percebemos o fim desse estado de graça do inédito, quando sentimos o peso do fastidioso repetir por hábito e continuidade, muitas vezes buscamos outra novidade - que é diferente do emergente! - e tendemos a abandonar aquilo que se transformou em rotina. Trocar de roupa, de carro, de namorado, de mulher, de cidade - qualquer coisa, num ato desesperado, como se fosse possível mudar as coisas dentro de nós pela simples mudança do que quer que seja no lado de fora.

Há apenas três anos a Internet era muito diferente do que é hoje. Um processo semelhante ao narrado nos documentários sobre os nerds ebulia na rede mundial. Acompanhar essa mudança foi como testemunhar a transformação de uma feira de ciências e conhecimento, cheia de entusiasmo pelas possibilidades de intercâmbio de informação, num barulhento e confuso supermercado onde se apregoa aos berros tudo que é bugiganga e se supõe, na outra ponta da linha, apenas "clientes". Vem o impulso de abandonar este espaço, este vício da crônica de cada dia e buscar alhures o que não se encontrou aqui...

Buscar em outra parte? Quão falaz, se ao partir para a busca carregamos todo o ontem em nós! Pode-se ficar todo o tempo de uma vida pulando de novidade em novidade como macacos nos galhos. A grande novidade, o inédito que queremos mesmo, só é possível encontrar no fundo de nós. Como o sei? Não sei. Sei apenas que não é fácil...

 

Publicada quinta-feira, 01 de julho de 1999

 

 

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