desenho de Mima

Distração

15/05/15

Cuidamos com zelo de nos distrair, o tempo todo por todos os meios e chamamos a isto entretenimento. Evitar o encontro de cada um consigo, temerosos de uma avalanche de conscientização capaz de abalar a estrutura social. Há pouco ocorreu-me ligar o computador - máquina de escrever dos dias atuais - já com duas ou três frases engatilhadas sobre o tema...

Aí está, o entretenimento propiciado pelo complicado processo de ligar-se da máquina eletrônica, com suas demoras e distrações apagou da memória o assunto a escrever, o tema aludido. Ocorreu, então: ter-se-ia perdido caso eu apenas pegasse uma folha de papel, a posicionasse no rolo de borracha, pronta receber pancadas dos tipos acionados mecanicamente no teclado de uma velha máquina de escrever? Impossível saber. Lembro, tão só, de jogar no lixo muitas folhas nelas iniciadas, por preguiça de corrigir ou mania de perfeição.

Caligraph3
Caligraph3

Outro dia, uma amiga contou ter comprado uma velha máquina de escrever, mandado restaurá-la, na esperança de, com a novidade, descobrir a escritora adormecida em si. Não sei se funcionou, mas certamente não se perderá entre plins, toins, janelas a surgir e mensagens, informações, notas etc. no tortuoso percurso à página branca virtual.

Não foi a primeira nem será a última. Os computadores sempre souberam me driblar e subtrair-me a ideia pela qual os acionara. A desforra aqui está, com este texto não pretendido, fruto da distração com o despertar da máquina e da memória cada vez mais falha da velhice. Saberíamos voltar à datilografia, ao pesado teclado e os golpes secos de cada letra sobre a fita bicolor? Datilografar, se dizia, embora se usem cada vez mais os dedos no escrever, para manipular imagens e fazer escolhas nas telas alucinantes dos tempos modernos. O Homem e seus instrumentos maravilhosos!

Date: Fri, 15 May 2015 09:13:34 -0300

meu desenho?!?! que hooonraaa!!!!!! :))))
A crônica me falou ao fundo da alma, lógico!!!
Logo de cara, você se refere ao ensinamento básico da meditacão (que faço diariamente): a distração que impede a conscientização, o encontro consigo mesmo. A meditação propões exatamente o oposto, concentração, esvaziamento da mente de suas distrações (será possível?!?!).
Depois, você contou um fato que me ocorre quase todo dia quando venho ao computador trabalhar, ou seja, escrever e, principalmente, quando ligo a porcaria pra redigir um coisa que já tá na minha cabeça. E esqueço a dita cuja ou dita coisa.
Uma vez me aconselharam a desligar internet pra conseguir trabalhar. Nunca cheguei a fazê-lo, mas deixar de abrir mail e safari e ficar apenas no word, sim, e ajuda.
Fiquei anos relutando em ter internet a cabo (lembra da internet "discada"?) pra não ficar ligada o tempo todo.
A gnte vai capitulando à tecnologia. Mas não quero ter facebook.
ADOREI, genial.
bjs

      sem assinatura

Deu-me na telha, hoje, incluir o cabeçalho, que sai a cada vez na página da internet. Com este tema tinha de ser aquele desenho, que adoro.
Não sei sobre a meditação nem sobre tal possibilidade.
Pois é, de fato liguei o e-mail. Mas mesmo assim, o processo de ligar a coisa é muito demorado! Deu saudade da velha Olympia com seus vidrinhos bisotê.
Claro que lembro da internet discada, lenta, tenta e não conclui...
Obrigado.


Sat, 16 May 2015 14:03:57 -0700 (PDT)

bjs
achei o maximo o berro da vaca virar gemido esporadico

e a memoria ta indo embora mesmo ...

Boa entendedora e leitora primeira, lhe bastou meia palavra para compreensão total. De fato, no início pretendi a cada dia brindar um público ignoto com uma nova croniquim, mas aos poucos vi não bastar querer e, por uma ou outra razão, os hiatos se tornavam mais frequentes e mais amplos. E a imagem da parte da vaca que se perde minguou e, hoje, é se muito minguado gemido e o slogan de outrora virou este slogan perverso.

Agora, se nada existe, para que lembrar?


Thu, 21 May 2015 19:26:48 -0300

Engraçada sua conversa com o passado.
E quando essas novidades. nos tempos que já foram
começaram a aparecer ao meu redor, fui contra
todas elas, uma por uma. Quando Helena e Tomas
chegaram com o primeiro Apple eu nem permiti
que colocassem na mesa. Eu continuava na
veterana "Máquina de Escrever". Na verdade
sempre tive preguiça de mudar o estabelecido.
Mas recentemente, claro, mudei um tico. Ou
um ticão. Mas eu sei pouco sobre todas essas
infinitas novidades. Amanhã deve pousar
outra aqui na mesa ao lado. Mais uma
coisa pra eu aprender.... Ou... tentar.

      sem assinatura

Tive atitude parecida: chegaram com um computador na assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde e instalaram sobre uma mesa (não pude impedir!) mas saí da sala. Da porta, olhava a todos se empurrarem para ver melhor a minúscula tela preta com letras verdes de uma possante máquina com processador de 25Mh e disco rígido de 40Mb... Continuei a usar as Remington que havia por lá. Tudo mudou rápido demais!

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