autora: Mima 

Encontrão

18/02/13

Ia Andriele pé direito, pé esquerdo, pé direito, pé esquerdo em disputa inútil de qual ficaria adiante, distraída com as muitas falas em sua cabeça, vozerio irrefreável qual avalanche morro abaixo ou fogaréu morro acima, para sublinhar a imagem popular, imagem a se completar com uma terceira força irreprimível no aforismo assinalado, desta, contudo, tudo ignoro e me calo.

Ambulava assim Andriele pela metrópole anônima, cercada de multidões apressadas de pessoas aparentemente fechadas em si, como se com os sentidos desligados, quase sem ver, quase sem ouvir e a ignorar odores bons e ruins e eventuais gostos que lhes assomassem à boca, bem como estímulos táteis de roupas a roçar a pele ou calçados a apertar os pés, quando se deu o esbarrão.

O gajo seguia no pelotão de transeuntes, cabisbaixo, na certa absorto em vozerio próprio, das falações intermináveis que movem nossas cabeças e a distração levou os dois corpos ao mesmo espaço, donde o encontrão. Ambos se olharam e principiaram as desculpas, mas foram tão espelho um do outro, que também juntos começaram a rir. Secundino, este o nome do abalroador, deteve-se na constatação dos atrativos de Andriele, nome que ainda ignorava e ela, calou, espantada com o súbito silêncio que, com a pancada, se instalara em sua mente. Calaram-se as vozes, cessaram-lhe os pensamentos. E o silêncio interno tornava insignificante o barulho da uma cidade efervescente.

O leitor já adivinha ser tudo mera ficção. Andriele e Secundino existem, sim, mas deles sei apenas os nomes, constam da longa lista, entre outros estapafúrdios. Sabe, também, de minha incapacidade para lidar com a simulação, incapacidade ficcional.

O casal apenas interrompe o longo silêncio deste aprendiz, calado ora por um motivo, ora por outra razão, causas desimportantes com absoluta certeza.

18 de fevereiro de 2013 11:41

Gostei muito!
Aguardava um "final feliz", mas adorei a sua maneira de encerrar; ficou bem melhor.
Bjo,Brte

Obrigado.
Pena essa minha limitação com a ficção, não fosse por isto tentaria conduzir Andriele e Secundino rumo ao tal "final feliz" sugerido por você. Certamente seria muito melhor.


19 de fevereiro de 2013 00:22

adorei! bjs
quais sao as causas desimportantes?

Que importa, se não têm importância?


19 de fevereiro de 2013 08:55

Cinema da melhor qualidade. E sem câmera!!! Abração. Ebert

Queria apenas preencher um, espaço vago durante muitos dias, como forma de dizer um 'oi' aos amigos cativos, hoje, por volta de meia centena. Procurei, então, imaginar uma cena simples e inconsequente...

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