'Meu primeiro desenho' by  Anucha [1991]

Firmamento

24/06/14

"O céu fica todo iluminado, fica o céu todo estrelado, pintadinho de balão" - antes, o genial Lamartine Babo anunciava: "chegou a hora da fogueira, é noite de são João". Pois bem, tudo isto acabou. São outros tempos e com eles outros costumes, outras tecnologias. Resta o céu todo iluminado, mas não pelos balões de antigamente, mas por luzes ofuscantes das noites urbanas. Fogueiras também estão proibidas para não enfumaçar ainda mais a atmosfera, o céu de inverno, em teoria, o mais estrelado nas longas noites solsticiais, quando o pólo se volta para fora, na órbita, e nos mostrando mais a imensidão incompreensível nos exageros de suas medidas e extensões.

Levantei os olhos para o "o céu todo estrelado" tinha pouquíssimas estrelas e demais fulgores próprios daquela vastidão. Não havia nuvens, mas um véu - talvez de brumas, talvez de poluição ou ambos - sublinhado pela exuberância das luzes da civilização, apagando a beleza do firmamento. Hoje, dia da noite de são João, volta à lembrança as fogueiras, os balões e os fogos de artifício da infância - fogos singelos: busca-pé, estrelinha, estalinho e um em forma de círculo, preso por alfinete pelo centro, que girava à medida que queimava num círculo de fogo - em contrate com os estouros terríveis de ontem, a comemorar gols.

Tivesse eu mil anos, certamente lembraria de céus muitíssimo mais estrelados e de outros fogos empregados para outros fins. A humanidade cresce sem parar desde sempre, o planeta não. O poeta, com sua genialidade, concluiu lembrando que "o balão ia subindo para o azul da imensidão", azul que talvez se veja, hoje, mais refletido em telinhas e telões do que em sua indizível e provocadora amplidão.

Tintim, bom quentão!

Tue, 24 Jun 2014 10:02:41 -0300

Tintim!

      sem assinatura

:-)


Tue, 24 Jun 2014 10:24:34 -0300

Olá Clode

Que linda sua crônica de hoje, dia de São João!
Ela me fez recordar minha meninice, quando, nas noites frias de junho (eram mais frias, não eram?) sempre tínhamos uma festa para ir. Churrasco, quentão, pipoca, fogueira, fantasia de caipira...ah, e também os fogos! Como era bom acender, na janela de casa, a rodinha fixada no cabo de vassoura - essa era a minha predileta!

Obrigada por suscitar em mim tão boas lembranças. "Velhos tempos, belos dias"!

Beijos da Vera

Quanto ao frio, não tenho como comparar: minha infância foi no Rio, mas de meu quase meio século aqui, sim, vivi dias mutíssimo mais frios nas décadas de sessenta e setenta. Obrigado por lembrar-me onde se prendia a rodinha: no cabo de uma vassoura e era este mesmo o nome, não: rodinha?


Date: Tue, 24 Jun 2014 13:12:50 -0300

... pois é, Mermão, o São João mudou muuuuito.
Tudo mudou e muda muito. Faz parte das
voltas que a bolota onde vivemos vai
variando variando variando sem parar.
Pode ser que tudo isso vá demolindo
a bola onde estamos... mas dever ser
assim por todo esse buraco no qual
não somos nada...
Agora... só mesmo lembrando da linda
e sábia canção que começa assim:


Nada do que foi será
de novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa, tudo sempre passará...
A vida vem em ventos como o mar...
Num ir e vir infinito...


bjo, mermão

Sem saudosismo! Sim, a vida flui como um rio e é muito difícil acompanhar o momento, o real, o fato. Não suspirei por uma infância longínqua agora, na velhice de hoje. Lindo o seu texto! Obrigado.


Wed, 25 Jun 2014 10:18:39 -0300

Quando eu penso em tudo de bom que houve um dia e que 'já era', agradeço por ter sessenta anos, mais prá lá do que prá cá. Triste é pensar nas crianças. Ainda bem que eu não trouxe mais uma.....
ro

Sim, um dia morreremos, mas a humanidade continuará. Como interromper essa deterioração? O que fazer para reverter esse estado de piora continuada? Não caberia a nós encontrar um jeito?

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