crônica do dia

Hora de fazer xixi

16/03/07

A compreensão é instantânea. Instantânea e sem palavras. Só depois do relâmpago de compreensão a mente traduz o que se compreendeu, o torna passível de comunicação e parece que foi preciso tempo para compreender.

Na escola, há mais de meio século, reagíamos com viva alegria ao som da campainha que anunciava o recreio. Hora de brincar, hora da merenda, hora de pátios generosos em escolas sem medo. Hora, também, de fazer xixi. Esperávamos o sinal e a boiada só não estourava em algazarra e bagunça pela rígida disciplina que se impunha à meninada.

Hoje, notícia de capa do 'Pioneiro', de Caxias do Sul, RS, conta que crianças de São Marcos ficam na fila para ir ao banheiro em escola local, pois só existem dois para 600 alunos. O absurdo fisiológico, além de simbolizar a situação de nossa Educação, foi um flash de compreensão do palhaço que um dia representei.

reprodução da capa do jornal Pioneiro de 16mar07

Na percepção de algo é tanta síntese que, não raro, nos atrapalhamos ao tentar contar, e começo por via oblíqua: um belo dia alguém me contou ter sido, por muito tempo, o palhaço - o bobo da corte, como disse - de seu grupo, pois era como conseguia fazer sucesso, e muito! Palhaço, era querido entre os amigos.

O mesmo me aconteceu aos dez anos, quando fui o mais traquinas, o mais insubordinado dos alunos e, no meio do segundo semestre, já tinha minha expulsão da escola declarada - grande erro de estratégia! Logo percebi não existir mais castigo para mim, podia 'fazer o que bem entendesse' - estava expulso. Mais de uma vez pedi para ir ao banheiro, durante o 'estudo' - era semi-internato -, e o 'inspetor' não permitiu. Eu dizia que, então, ia resolver a coisa ali mesmo. A turma exultava, gritava meu nome. Era um 'herói'. Pelo avesso, mas sob refletores. Ia, então, até o cesto de lixo, no canto da sala, e... Toda transgressão era em busca de aplauso.

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