No fim, cada mania acha seu louco.

Imperativo condicional

25-07-07

Não sei das vacas, de como andam seus níveis de colesterol ou espessuras de toucinhos de papada, mas em outros tempos, na certa, dir-se-ia este um ano de vacas gordas. Chove. Chove desde antes do ano começar e não parou mais. Dir-se-iam gordas as vacas, a ver os pastos debaixo do aguaceiro se agigantarem em moitas de esconder bezerro.

Hoje, em pombais urbanos a perder de vista, vaca virou tipo de alimento, ingrediente da ração do supermercado como tantos e o abominável 'politicamente correto' talvez já tenha posto em novas bíblias rezas com anos de bois subnutridos e outros de bois obesos. São os tempos que pasmam os indivíduos, repito o que repetia em cada capa a velha revista de ciência brasileira.

A água escorre em lâminas por telhados, rampas, barrancos - de toda parte. Em cada trégua de chuvarada, passarinhos decolam e pousam e se equilibram no ramo frágil, na folha luzidia. Ali está seu supermercado, ali sua geladeira. Como nós, precisam comer todos os dias.

A natureza visivelmente se regozija com o banho demorado. A pele de cada folha respira livre de pó e parece reter as gotas - diamantes! - para dizer à água como lhe quer bem.

Nas cavernas profundas de Alulilalá, queda mudo e perplexo o sultão, ao ver inócuas suas ordens terminantes aos céus: quero dia e hora para parar de chover e, todavia, continua a chover. Ebuliam congonha na chaleira e estapafúrdias sugestões. Propõem-se comissão disso e daquilo, agência reguladora, com metro apropriado e controladores de cada uma e de todas as pressões a pôr em risco, iminente e silenciosamente, o tique-taque vital da nação, diz eminente cardiologista, já com as pílulas na mão - cuidado!, o pasto é bom, o boi obeso, o colesterol alterado por belas das alterosas... Sobe a pressão na panela do feijão. Expele-se, enfim, a decisão:

imagem da internet

- Que não suba, desde já, mais nenhum avião.

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