Lição das Compras

 

Mais de uma vez falei com ironia, aqui, da mania de estatísticas dos norte-americanos. Por outro lado, a mulher também foi tema muitas vezes, em particular, nos aspectos psicológicos que a fazem diferente do homem - o se poderia chamar de caracteres sexuais terciários. Por fim, pelo menos uma vez se falou do caminho percorrido pelas páginas da Internet, desde a estrutura simples inicial, baseada apenas nas possibilidades do hiperlink até a complexidade e sofisticação obtida com o acoplamento de várias linguagens de computação e da tendência atual, de uma volta à simplicidade.

Que tudo esse intoito sirva como desculpa para citar uma estatística norte-americana sobre mulheres e Internet, que acabo de receber. O divertido nisso tudo é descobrir que nem sempre é necessário uma pesquisa de mercado para perceber o óbvio. Outro dia citei Schopenhauer, em sua afirmação de que a mulher é mais objetiva do que o homem. Eis alguns dados e conclusões da pesquisa norte-americana: no último trimestre do ano passado as mulheres foram responsáveis por 55% do comércio on-line. Diante disso, o editor do boletim pretende ensinar alguns truques de como vender às mulheres, com o atrativo título O que as mulheres querem e cita as estatísticas. Diz: "elas controlam ou influenciam 80% de todas as decisões de compra". Afirma que os homens se impressionam com "os últimos grafismos cintilantes" enquanto suas irmãs tem um olho mais prático, sem se impressionar com "sinos e apitos dos web designers" Diz que a mulher, em geral, usa o computador para resolver as coisas.

Com frases de efeito, afirma que cuidar da carreira, das relações e da casa já é difícil sem precisar fazer o download do último plug-in para ter a mais recente previsão do tempo. Depois, sempre apoiado em números, dá dicas de como construir páginas que vendem para mulheres. Em bom português, precisam ser objetivas, sem frescuras, carregar rapidamente e permitir chegar logo ao que se quer. Nada de muito texto - e elas levam a fama de faladeiras! - ou fundos cor-de-rosa. Afirma, textualmente: "as mulheres se conectam para cumprir tarefas com rapidez." Classifica a mulher como econômica em mídia: apreciam um conteúdo rico, por um lado; nas compras, não querem vagar através de anúncios.

O filósofo alemão que viveu entre 1788 e 1860 não precisou de nenhum instituto de pesquisa para afirmar que "... as mulheres têm decididamente um espírito mais ponderado, e não vêem as coisas senão tal qual elas são" e que "elas têm uma maneira de conceber as coisas totalmente diferente da nossa. Vão ao fim pelo caminho mais curto, porque fixam geralmente os olhares, no que têm mais próximo." Ah, os homens, essas crianças que teimam em não crescer...

 

Publicada Quinta-feira, 10 de Junho de 1999

 

 

|home| |índice das crônicas| |mail| |anterior|

 

 

182