14-01-06  Crônica do dia

Liquidâmbar

20/06/06

Há muitos anos, ganhei uma muda de liquidâmbar. Para quem não sabe, liquidâmbar é árvore do frio, cuja folha se vê na bandeira do Canadá. Folhas grandes, de uns dez centímetros, em média, que exalam aroma forte semelhante à terebintina, sobretudo quando maceradas - perfume delicioso.

A árvore cresceu, então, muito rápido, e ganhou proporções incompatíveis com o ambiente e acabou se impondo o seu abate. Sobre o tronco que restou, bela mesa natural a meio metro do chão, colocaram um grande vaso de barro com uma plantinha que me disseram chamar-se dólar, sei lá por quê.

É óbvio que deste tronco e suas raízes, que não foram tocadas, logo vieram brotos por todos os lados, prontos a repor o que fora derrubado. Por muito tempo, podei esses brotos, ora logo que apareciam, ora, por indolência, quando já tomavam ares de galhos. Por fim, a insistência vegetal venceu minha preguiça e, quando vi os galhos eram pequenos pés de liquidâmbar a rodear o vaso, os dólares e o mato que já crescera lá.

Hoje, eles cresceram tanto que, vistos de longe, aparecem como uma planta íntegra, ninguém percebe, à distância, seu segredo de gaiola viva de um vaso cheio de mato e trepadeiras.

Hoje, último dia de um outono muito frio, com a luz pálida dos outonos, o liquidâmbar começa a fazer o seu. Algumas folhas se pintam de amarelo. Passarão depois por toda gama de laranjas e ocres que encanta as paisagens do frio e cairão, mas a árvore jamais se despe neste trópico. Talvez o frio não chegue para tanto, talvez a luz a impeça de um sono profundo. Ela é filha das neves e, felizmente, nunca a viu por aqui.

folha de liquidâmbar

Amanhã, por razões da Astronomia, começa o inverno, mas o liquidâmbar se confunde com nosso calendário e, diante de dias mais longos, começará a cogitar folhas novas, embora as de agora estejam todas condenadas ao pardo e à queda.

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