(de esporadicidade imprevisível)

Memória e maria-fumaça

24/09/18

Nos últimos onze anos nunca calhou de haver uma crônica no dia 24 de setembro. As quatro deste dia foram nos anos de 2007, Fé e Geometria; 2002, O Marido; 2001, Cinemascope e 1997, ano inaugural do aprendiz, Obsessão.

A primeira, Obsessão, com título certamente sob a influência de Nelson Rodrigues, onde se perambula sem rumo por diferentes assuntos, como se qualquer coisa posta em letra de fôrma se tornasse, por isto, interessante, destaca uma remotíssima lembrança da tenra infância, fato a levar-me, agora a ponderar que as imagens dos primeiros anos se perdem como paisagem na bruma: quanto mais remotas, menos nítidas. Disse imagens por serem, muitas vezes, lembranças visuais, trailers ao avesso, fragmentos "arqueológicos" de nossos filmes perdidos, das memórias do desenrolar quase atemporal da infância. Podem ser, também, fotografias, é fato, instantâneos esmaecidos, cacos, vestígios apenas...

A lembrança de um tempo impossível de precisar, mas ainda poderosa como imagem e mencionada naquela crônica, apenas a trigésima terceira, tem como cenário a estação ferroviária Leopoldina, hoje abandonada depois de se ter transformado em depósito, acreditem, da Odebrecht. Quando tinha poucos anos, era ali que se embarcava em um trem para subir a serra e chegar a Nova Friburgo, cidade natal de minha mãe. A composição, refeita no alto da serra, depois seguia no rumo das Gerais.

Até aí nada para se tornar marca indelével na memória de um velho. O trailer começa com o tipo de locomotiva para puxar o trem até o pé do morro, onde era substituída por outra, com engrenagens para o trilho dentado da serra: uma bufante e poderosa maria-fumaça, que ali se podia contemplar a menos de um metro de nossos narizes.

A poderosa máquina e seu carro de combustível pareciam resumir o poder máximo do Homem.


* Os vagões eram puxados dois a dois serra acima. volta

Wed, 26 Sep 2018 16:02:14 -0300

ai, que lindo!!! crônica linda, lembrança linda, queria que fosse minha, pois eu, que ADORO trens, nasci depois que o de Friburgo foi aposentado. Se andei nele, foi antes de ter registro de trailers. Me lembro das idas de carro e de ônibus apenas. Por que não temos mais trens????

Ah, pintura linda também.
Tudo lindo

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Que ótimo você gostar! Obrigado.

Ainda bem que se manteve anônima, dada a suspeição inevitável em suas opiniões... :-)

Pois é, em um país continente como o Brasil, aposentou-se o trem em prol da indústria automobilística e, talvez, da petrolífera também. Na Índia, colonizada pelos ingleses, prevaleceu o trem. Os trens têm mesmo um encanto singular e as resfolegantes marias-fumaças ainda mais.

Linda é você! Obrigado de novo


Thu, 27 Sep 2018 11:45:50 -0700 (PDT)

que barato, Clode
eu tenho uma vaguissima lembranca de ter visto uma Maria Fumaca, mas talvez seja soh uma "imaginacao" de quem, em crianca, ouvia falar nela
nao sei mesmo, mas parece-me que uma vez viajei na tal Maria Fumca

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É possível... Nossa diferença de idade não é tão grande e os trens a vapor certamente impressionam profundamente.

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