no Shopping da Granja

Nacionalismo

03/01/19

Duas guerras mundiais e incontáveis outras disputas entre dois ou mais países atestam, em seu aspecto mais gritante, os malefícios do nacionalismo, não bastasse o dividir a ele intrínseco, o separar e, assim, opor uns aos outros.

A Biologia já demonstrou cabalmente sermos uma só e mesma espécie, aquela que dividiu o mapa em pedaços coloridos (inexistentes ao olhar de longe a Terra) e criou bandeiras e brasões e moeda para cada naco colorido e, para cada um, compôs um hino. Depois, chamou a tudo isso de "símbolos da pátria" e pôs-se a catequizar sobre a necessidade de defendê-los com unhas e dentes e espadas e lanças e canhões e metralhadoras, de por eles lutar contra "inimigos" e, se necessário, com o sacrifício da própria vida (ou as dos próprios filhos, jovens e inexperientes).

Floresceu o nacionalismo. Morreram multidões em guerras absurdas, milhões a acreditar na propaganda da "minha pátria" oposta à "pátria vizinha" ou outra, mais distante, tanto faz. Saturada de tanto horror parecia, na segunda metade do século passado, ter a humanidade desistido da opção nacionalista. Os hippies estimulavam procriar em vez de lutar (com a colossal ambiguidade da palavra amor). Por um momento, caminhamos para uma civilização global, para uma unificação da humanidade.

Os últimos tempos, todavia, mostram o ressurgimento da visão nacionalista com a União Europeia ameaçada pela ruptura da Inglaterra, com os líderes mais poderosos aferrados ao conceito absurdo de "minha pátria", negando-se a um propósito geral, visando a toda humanidade.

Recentemente, essa onda chegou forte por aqui e uma visão mirrada e segregacionista encheu, nos últimos dias, o "céu da pátria", em uma enxurrada de discursos inflamados onde só faltou se clamar para, "quem te adora, ó Pátria amada, não temer a própria morte".

Thu, 3 Jan 2019 13:30:39 +0000

Muiiiiiiito bommmmmmm

Renato imbroisi

"Muiiiiiiito bommmmmmm" é saber que você gostou.

Obrigado.


Thu, 03 Jan 2019 11:34:27 -0200

LINDO. Real e triste.
Falar sobre este assunto com esta maestria e delicadeza, imparcialidade e realismo, só mesmo um GÊNIO.

      sem assinatura

Na verdade, sem desprezar os outros oradores do dia, foi o absurdo discurso do novo chefe do Itamaraty que me fez levantar e escrever. O assunto, é óbvio, convive comigo há muitíssimo tempo.

Obrigado duas vezes.


Sat, 5 Jan 2019 13:22:50 -0200

Oi, Clôde

Esta me lembrou duas fontes interessantes sobre a agressividade no reino animal:
(a) um clássico, On Agression, de Konrad Lorenz - que, junto com outros dois fundadores da Etologia (Tinbergen e Van Hoof)
ganhou um Nobel de Medicina por estudos etológicos sobre comportamento animal; e
(b) The human history, de Robin Dunbar (pesquisador que estuda a evolução humana), que, por acaso, eu estive relendo estes dias.
Em um capítulo muito interessante sobre os grandes primatas, intitulado Brother Ape, ele compara a ocorrência de agressividade intra-específica entre os grandes primatas e no ser humano. Achei que podia interessar a você, escaneei e mando em anexo.
Infelizmente não consegui endireitar os scans para um modo de leitura, porque são salvos em PDF, não aceitam salvar as alterações.
Mas se você tiver paciência de ler cada arquivo (2 páginas) por vez, dá pra mudar o formato entrando na opção Visualizar, aí pede Ajustar à página, e depois, na mesma opção, girar visualização em sentido anti-horário.

São evidências interessantes de que a agressividade intra-específica ocorre também em ouras espécies de animais sociais. No caso do ser humano (e talvez até nos grandes primatas, certamente no chimpanzé (exceto nos chimpanzés bonobos), não só ocorre entre indivíduos do mesmo grupo (aí em geral motivada por disputa de recursos, entre os quais as fêmeas), mas também entre grupos diferentes, cujos indivíduos não se conhecem reciprocamente e, por exemplo, estão disputando ou defendendo um território Ele compara também a extensão das consequências (tipo mortalidade em massa) nas “guerras” dos grandes primatas (principalmente chimpanzés, nossos primos mais próximos, e a imensa diferença nessa extensão no caso do ser humano, devido aos recursos tecnológicos utilizados, desde as armas primitivas e a pólvora até a bomba atômica. Nesse aspecto, infelizmente, somos incomparáveis...

Isso sugere uma interpretação que também é levada em conta pelo Lorenz. Como outros primatas, seres humanos, desde os primórdios da evolução da espécie, são biologicamente adaptados para conviver em grupos em que todos os indivíduos são reconhecidos, são familiares. Nesses casos, também há eventos de agressividade, claro, mas a proporção do estrago não se compara à de guerras e conflitos semelhantes. O amor ao próximo recomendado pelas religiões não leva em conta esse fator: não há “próximos” pessoalmente desconhecidos a não ser conceitualmente, quando o pertencimento à mesma espécie é culturalmente valorizado a ponto de regular outras tendências. E como nós sabemos, essa valorização sofre influência direta da complexidade da vida social humana, de interesses econômicos, das ideologias, muitas vezes criadas para favorecer esses interesses...e por ai afora.

Bom fim de semana!Bjs
Ana
São dezesseis arquivos, mando em blocos de 5 (e um de 6) para não pesar demais.

Oi, Ana.

Obrigado pelos anexos, interessa sim. Vou ler com calma e, depois, conto.

Uma pergunta: posso compartilhar esta sua resposta com meu neto primogênito? Ele me perguntou especificamente sobre esses fatos.


Sat, 5 Jan 2019 08:57:12 -0200

Dos males, ops, Damares, a pior !

Sônia

Bem sacado!

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