Notas idiotas

22/02/11

Madrugada de quinta para sexta-feira, dissipara-se o temporal da tarde e, sob céu estrelado, de poucas estrelas, é verdade, a paisagem se desenhou nítida e minuciosa, sublinhada por sombras bem recortadas de um luar espetacular. Descambando já para o poente, a lua brilhava cheia, enorme e, pareceu-me perto, como se a fosse possível tocar.

Sem sono, saí para sentir na pele e nos olhos a noite singular. Silêncio, nenhum vampiro, nenhum morcego. Poucos grilos, ao longe, no fundo musical do cenário de sombras profundas e reflexos em folhas ainda molhadas. De nordeste para sudoeste, passou um avião de carreira e seu estrondo encheu a imensidão e ecoou ainda, mesmo depois de desaparecerem atrás das copas suas luzes coloridas a piscar.

Pela manhã, o sol brilhou forte sob um céu encarneirado. Esta adjetivação me vem de muito longe no tempo. Criança, olhava a manada de pequenas nuvens brancas, ouvia o adjetivo e as aceitava como o bando de carneiros no pasto que jamais vi fora de filmes. O sol quente desenhava sombras escuras onde ainda brilhavam gotículas das chuvas passadas, infalíveis nas últimas tardes. A vibração no ar desviou-me o olhar para o beija-flor parado a meu lado. Aparentemente, o pássaro não se importava com minha presença. Era verde escuro, com um brilho metálico, comum a muitos deles e ostentava na garganta uma faixa azul. Voejou entre flores vermelhas, muito comuns, cujo nome ignoro, das quais, menino, arrancava o cálice e espremia ali uma gotícula de néctar (só algumas a tinham!)

imagem da internet
abelhas furam a base da flor

A ave voejou de flor em flor em busca do furo, junto ao pedúnculo, deixado por algum inseto que buscou ali o mesmo alimento. Imóvel, assisti a tudo de muito perto. Em seguida, o beija-flor pousou num ramo, depois em outro, onde permaneceu algum tempo, antes de zarpar em grande velocidade.

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