O dinamarquês

29/11/18

Ao entrar nos Correios, um senhor idoso, com os cabelos de um branco absoluto, vinha dos fundos da agência, acompanhado por uma negra corpulenta, para obter uma nova senha de atendimento no terminal automático. Ele tentou prender a antiga senha no painel da máquina, mas foi orientado pela negra a descartá-la.

Em seguida, peguei minha senha e sentei-me, sabedor das longas esperas ali impostas aos clientes. Fora uma manhã enfadonha, pontuada por demoradas esperas. Primeiro, em um cartório civil e agora na agência dos Correios. Depois de ser atendido e concluir o envio dos papéis, quando já ia sair, percebi o senhor da senha, em um dos pequenos balcões presos na parede, anotando algo e, ao aproximar-me, notei sua tentativa de comentar alguma coisa. Dei-lhe, então toda minha atenção.

Ele colocava em uma pequena pasta plástica (tamanho meio ofício) azul, um pequeno pedaço de papel que, ao lhe dar atenção, retirou para mostrar. Nele estava escrito "carta aérea" e "150 reais". Este era o motivo da grande indignação do cavalheiro: cobrarem-lhe 150 reais pela remessa de uma carta aérea!

O senhor se esforçava para falar, mal e mal, um português misturado com palavras em inglês e ainda outras, em língua para mim desconhecida. Arrisquei um pouco de meu inglês incipiente e aos poucos conseguíamos nos entender, com sua manifestação veemente contra o preço absurdo pedido pelo envio da carta aérea.

Ao despedir-me, fez questão de um aperto de mãos. Senti sua cordialidade e tentei "where are you from?" e foi muito fácil compreender sua resposta: de Copenhague, Dinamarca.

Apesar da dificuldade idiomática, foi possível saber que ele está em São Pedro da Aldeia, sua esposa em Copenhague, ficará ainda em dezembro e em seu país a carta custaria cinco reais. Despedi-me de novo do cavalheiro dinamarquês.

Thu, 29 Nov 2018 11:26:39 -0200

Nao vem com essa não, Mermao... logo você vai estar falando Dinamarques fluentemente... certo?

      sem assinatura

Não! Não sei uma só palavra em dinamarquês! O velho arranhava muito mal algum português e nós apelávamos para um inglês muito capenga. Nada de dinamarquês, é óbvio.


Thu, 29 Nov 2018 14:19:08 -0800 (PST)

legal, ne, a comunicacao entre vc e o senhor dinamarques ...

      sem assinatura

Muito!

Ele atraiu-me a atenção quando cheguei e, depois, na hora em que ia sair da agência.

Acabamos quase amigos...


Thu, 29 Nov 2018 21:28:50 -0200

                                 É de espantar o  preço dessa carta do dinamarquês!

                              Verdade?

                              Bj Brte

Oi, Dedete.

O que relatei, sim, absolutamente verdadeiro.

Ele tinha o tal papelzinho com anotações como descrevi. No início, a comunicação entre nós foi mais difícil, mas era patente sua revolta. Não perguntei se ele mandou, ou não, a carta aérea. Também não me meti a intermediário com o pessoal dos Correios. Mas acabara de mandar oito documentos para São Paulo, por SEDEX e me foi cobrado 42 reais e alguns centavos...

Antigamente mandar uma carta custava uma moeda...

Os tempos mudaram, o Brasil mudou.


Sat, 1 Dec 2018 10:57:02 -0200

O "custo Brasil" é apenas um entre muitos indícios de que nos encaminhamos para um impasse...
Grande abraço.

Ebert

Sim os preços se tornam um disparate. Eu acabara de mandar, para São Paulo, uns documentos por SEDEX ao custo de R$42,70. Um envelopezinho com oito folhas "ofício". Quanto a nosso futuro (e, principalmente, o de nossos netos) tudo ignoro.

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