cronista em desenho de Vicente Kubrusly (29-05-78) 

O frio ficou

06/08/14

Foi-se a frente fria, ficou a fria manhã desta quarta-feira de céu azul e sol muito branco. Aqui, às oito horas, o termômetro subia aos dez graus Celsius, a confirmar ser o excesso de umidade mais incômodo que a temperatura baixa. No oeste, todavia, o horizonte está coberto por nuvens muito brancas.

Abelhas e pássaros se agitam no amanhecer. Elas esvoaçam em amplo bando na boca da colmeia e eles cortam o ar em voos rápidos e rasantes. Na paineira vizinha, um bando de maritacas se reúne barulhento como sempre. Diferentes piados competem, ora mais perto, ora distantes.

A natureza toda parece celebrar este dia ensolarado e com rajadas de vento a enfiar o frio por toda fresta. O gato brinca sozinho. Aprendeu a se bastar com o rabo da mãe. Ela deitava-se quieta e agitava apenas a ponta do rabo. Ele, bem pequeno, armava o bote e atacava a ponta ondulante como se caçasse um animalzinho. Ela, impassível, continuava por muito tempo a brincar com o filho, a exercitar seus pulos.

Hoje foi uma parte caída junto com a folha da palmeira morta, uma tira vegetal coriácea e mais ou menos do comprimento do gato a fazer o papel de rabo da gata há muito desaparecida. O filhote, agora com uns oito meses, grande e com a exuberância dos jovens, dava cambalhotas, rolava sobre as costas e, eventualmente se lambia aqui ou acolá, como se ignorasse totalmente o pedaço de vegetal ali perto. De repente, erguia-se sobre as quatro patas de um salto, encarava fixamente o alvo, elevava a traseira, abaixava as espáduas e, na preparação do bote, sacudia de um lado para o outro as nádegas, antes do salto que o lançaria como míssil sobre o despojo a substituir precariamente o rabo materno. Depois, outra cambalhota e a brincadeira seguia, pois a juventude é tempo de brincar.

O dia também segue, frio e ensolarado.

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