Organismo

17/12/12

Finda a semana. Vai o mês derradeiro a mais de meio, célere, para o fim da primavera e do outono, para o fim do ano. Tudo finda e o fim, além de inevitável, é natural - o fim de todas as coisas. O infinito não passa de um conceito, criação de algum cérebro pródigo em imaginar. O raio de luz segue, célere - o mais possível! - no vazio. Onde chegará? Ou o teremos de volta em uma rota circular? Chegará à estrela mais perto em pouco mais de quatro anos, mas o fundo desse poço incomensurável a que chamamos universo está muito, muito mais distante - tanto, que é impossível medir.

O Homem, esse ser com cerca de sete bilhões de células atualmente, continua o mesmo, ensimesmado cada qual em seu castelo insignificante, por mais alto seja o preço a ele atribuído, por mais louros traga na fronte a assinalar efêmeras glórias e flamejantes sucessos. Segue um programa escrito há milhões de anos.

As capas dos jornais delineiam um instantâneo da humanidade, do Homem, demasiado animal: fincam-se cruzes nas areias claras de Copacabana para as vítimas do "suposto assassino de Newtown"; sai a lista dos mortos, na maioria crianças de seis ou sete anos; a grande nação setentrional chora através do rosto de seu presidente, o mesmo que enviará novos contingentes de jovens quase imberbes às guerras que alimenta; filhos de mães que calam diante do ofício de matar e morrer.

Ligo ao acaso a tevê no meio de um filme cuja história li há muitíssimos anos, "Pantaleão e as Visitadoras", de Mario Vargas Llosa: o exército peruano cria um serviço para levar, de barco, rio Amazonas abaixo, prostitutas para seus soldados isolados na floresta com o pretexto de evitar estupros...

Nesse ínterim, a humanidade se multiplica em cada alcova, em cada quarto suntuoso, no meio da rua. O Homem é organismo extremamente complicado...

December 17, 2012 7:55:20 AM GMT-02:00

Oi Clode!
Estava dando falta das suas crônicas.... obrigada por esta.
beijo
Aida

Sou eu quem agradece. Na verdade, elas me 'acontecem', dependem de fatos fora e dentro de mim, por isto são esporádicas e imprevissíveis...


December 17, 2012 11:17:15 AM GMT-02:00

Fantástica crônica! Perfeita, sensacional!
Fiquei imaginando você publicá-la no face mas numa sequência: parágrafo, depois outro parágrafo entendeu? gostei muito dessa bj tchau

      sem assinatura

Alguns elogios significam mais para mim, segundo quem elogia, como este, em particular, que vale por mil.
Vou pensar em sua sugestão...


December 23, 2012 5:46:27 PM GMT-02:00

  Pantaleão e as Visitadoras.... delícia de história... Que bom reencontrar esta história aqui, meu irmão. Na verdade, sou fã do Vargas Llosa faz tempo. As sagas (digamos) sexuais deles são uma delícia... Beleza de escritor, no setor ficção. Prefiro não falar dos outros lados dele...

 Ah! Preparado pra outra virada de ano?... se é que isso significa alguma coisa...
talvez praquelas pessoas que vão pra praia, tarde da noite, jogam flores pra Iemanjá, um barquinho com velas e outras tantas reverências... Mas, quando amanhece, tudo segue sem variações...

bom fim de domingo ai, mano


bjo

      sem assinatura

Ainda que nada signifique, muda o quotidiano, muda o humor das pessoas, há um transbordamento de emoções e como se não bastasse, bebe-se muito mais com todas as consequências do excesso de etanol...

A Terra segue sua rota e já passou pelo ponto assinalado da mudança de estação...

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