foto de 5 de dezembro de 2015

Plim-plim!

01/10/18

No princípio a emissora de televisão imaginou-se genial ao sinalizar seus intervalos de propaganda com um plim-plim. Em pouco tempo, o sinal sonoro se tornou atração em si e, de longe, denunciava a emissora sintonizada nas imediações. Isto, no entanto, é passado. Hoje é raro se ouvir um plim-plim ao caminhar pelas ruas como se ouvia antigamente. São tempos de televisão paga, por mês ou per-view.

O sinal sonoro, todavia, procriou e se multiplicou cumprindo ordens de marqueteiros e vendedores dos templos da tecnologia da informação e desinformação e, atualmente, em qualquer parte se pode ouvir um rumor quase ininterrupto de plins e ploins e infindáveis variações eletrônicas sobre o tema global.

Cada mensagem enviada ao bolso ou bolsa de alguém, por aplicadíssimos aplicativos na faina de nos fazer todos uma só humanidade, uma só família, com um pensar consensual, enfim, o Homem com agá maiúsculo dos pensadores, cada mensagem apita lá de seu jeito peculiar tornando telefones e tabletes uma profusa saparia a coaxar em mi menor.

À agressão sonora se somam alarmes vários, espalhados por toda parte, a chamar inutilmente a atenção, seja porque um caminhão dá ré, a garagem expele carros no passeio público ou o assaltante se deu mal ao tentar violar algum automóvel excitante etc.. Ninguém mais se alarma ou liga aos clamores estridentes, venham de onde vier, a buzinar, apitar, imitar sirenes e sereias a cantar. São cantos que não encantam mais.

Assim como a luz intensa e profusa das cidades apagou de vez as estrelas do céu, nossa tecnologia cada vez mais "inteligente" extinguiu o silêncio e com ele os momentos de paz. Que importa se o cérebro precisa de escuro e silêncio para se reequilibrar? Paro por não suportar mais o ruído de uma máquina de cortar cerâmica nas imediações. Plim-plim!

Fri, 5 Oct 2018 21:11:52 -0300

Oi, Clôde

O silêncio da Granja já contrasta com os ruídos do apartamento em que moro agora: de carros passando ou
com buzina disparada (bastante frequente por aqui), festas ruidosas na vizinhança, bate-estaca em um prédio
em construção na esquina etc etc. Mas te conto que nada se compara ao nível de ruído na casa de meu irmão,
onde passei as últimas três semanas: além dos ruídos externos, minha cunhada é descendente de italianos e
tem voz de cantora (o que ela é, além de professora de música), habituada a falar muito alto, principalmente
quando discute com a mãe que mora com eles; as duas cachorras da casa disparam a latir cada vez que passa
alguém pela rua, principalmente se estiver com outro cachorro; a televisão, sabe lá porque, está sempre
sintonizada com um volume alto em um canal de programa político partidário (petista e bem agressivo,
Lula-idólatra, se você me entende). Pra conseguir ler na varanda, que dá para a sala, passei a tampar os
ouvidos com algodão e ler em voz baixa pra abafar o som da TV... Agora este apartamento parece muito
silencioso.

Mas, fora isso, foi muito bom estar lá e voltei mais tranquila a respeito do estado de saúde de meu irmão, que
está fazendo progressos. Valeu a pena aguentar a barulheira...

Bjs
Ana

Oi, Ana.

Desta vez foi você a lembrar-me uma piada boba, que ouvi no rádio, no PRK-30, ainda adolescente: um cara se queixa ao médico de uma terrível dor de cabeça, tudo encenado pelos excelentes Lauro Borges e Castro Barbosa. O médico pega e dá uma martelada no dedão do paciente e este começa a gritar e se queixar da dor insuportável em seu pé. O doutor então lhe pergunta: e a cabeça, dói?

O silêncio é cada vez mais uma preciosidade.

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