Posições

22/07/99

 

Eis-me em pleno experimento de uma nova posição. Não. dona Sabrina. não precisa se assanhar. Nem só para aquilo se discutem posições...

Li, outro dia, que Goethe escrevia de pé, sobre um móvel que mandara construir especialmente para tal. Se é verdade que os piscianos são as pessoas mais influenciáveis de todo o zodíaco, não sei, mas o fato é que estou, como já disse, na primeira fase da experiência vertical.

Tudo ainda está muito precário, pois trata-se de um primeiro teste. Simplesmente coloquei uma mesa sobre outra, uma mesa cujos pés já se haviam serrados para outros fins. A soma das alturas ultrapassa minha estimativa inicial, do que seria ideal, em uns 10 cm... Ops! Parece que a leitora detesta os números. Desculpe. Uns quatro ou cinco dedos, digamos. O monitor, ao contrário, poderia estar um pouco mais alto. É fácil de resolver, mas fica para depois - a trempe já tem um aspecto grotesco, embora pareça estável.

Como está, é fácil descer o teclado, o mouse e o monitor um andar e voltar à primitiva posição: sentado, que nos induz a esticar o corpo, pouco a pouco, rumo ao reclinado, impondo graves responsabilidades e esforços à coluna vertebral, essa pilha de ossos guardiã dos nervos. Além do mais, o reclinar pode já estar contaminado pelo desejo incontrolável de começar a contar as piores partes de nós, pois a posição foi associada, desde o princípio, ao divã e seus psicanalistas. Por razões semelhantes, não seria recomendável escrever de joelhos. Nossa parte menos consciente poderia supor que se está num confessionário.

A posição vertical, de pé, por outro lado, poderia estar inconscientemente associada à arrogância e prepotência. Os púlpitos sempre colocaram o orador em destaque, tanto os púlpitos ornados de anjinhos dourados sem órgãos sexuais, das igrejas barrocas como aqueles cheios de brasões e bandeiras, que tanto agradam aos governantes.

Mas aqui, o que importa, de fato é evitar a vida sentada, para a qual o projeto do homem deixa muito a desejar, apesar da bunda. Teria esta proteção, ou amortecedor da espinha, evoluído em função dos tombos - aprender a andar, nos humanos, supõe uma série de choques na delicada pilha de ossos ou teria se desenvolvido quando passamos a usar pedras como bancos e, depois, a construir cadeiras?

Uma coisa é certa: quando se está de pé, no computador, fica muito mais fácil ir fazer qualquer coisa - pegar um café, olhar o céu etc. - e voltar ao trabalho. Nem precisa levantar...

 

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