autora: Mima 

Tá ruço

01/06/12

Faltam cinquenta minutos para o sexto mês. Falamos no aqui-agora, na existência exclusiva do presente, no passado e no futuro como estorvos a nossa percepção, mas nos deixamos enredar por fantasias, flertamos com ilusões. Nos falta, a cada instante, clareza para o compreender.

Em minha infância, em Friburgo, Petrópolis ou Teresópolis, dizia-se ruço em vez de neblina, bruma ou cerração e, criança, associava essa limitação visual ao povo da Rússia de modo vago e impreciso - ruço ou russo, aparentemente, não era coisa boa. Só muito depois atentei à grafia.

Mas não seriam questões léxicas ou semânticas a pretextar estas anotações e, sim, o jeito engenhoso encontrado pela natureza para transportar água, tirando-a de onde abunda para a lavar a outras paragens, sedentas ou não. O tal ruço, as densas névoas e todas as brumas, tal como as nuvens, se formam de pequeníssimas gotículas de água suspensas no ar, de modo que os zéfiros possam levar milhões de barris de água assim nebulizados ao léu, pela atmosfera.

Vejo nuvens agigantadas navegando o azul e comento com meus botões: lá se vai o Amazonas de volta às suas nascentes. Já vi chaleira grande secar no fogão até fundir-se um furo em seu fundo de alumínio - litros de água escapuliram pelo bico recurvado ali, nas minhas barbas. E tanto o bafo da chaleira como cúmulos, estratos e outras nuvens se fazem dos mesmos borrifos de minúsculas gotas e, em todos os casos, é água sendo levada daqui para lá, de lá para acolá.

Assim como as formigas despem uma grande árvore de todas as folhas, recortando-as em pequenos pedaços transportados qual bandeiras desfraldadas, oceanos são movidos pelos ares nessas gotas invisíveis, volúveis e voláteis, disfarçados em mil formas a desafiar a imaginação.

Faltam sete minutos para junho, aqui, agora.

Fri, Jun 01, 2012 8:37 am

E você provando mais uma vez a compatiblidade entre ciência e poesia... Abração. Ebert

Obrigado, amigo. Ciência e poesia, no fundo, nascem na mesma fonte...


Fri, Jun 01, 2012 10:55 pm

ADOREI!!!!! LINDO!!!!! Nunca tinha pensado nisso, na analogia com as formigas, nas gotinhas suspensa pra água ser transportada.
Agora, eu tbm tinha medo generico de ruço e russo. e nunca me dei conta da diferença das grafias! o ruço que podia dar resfriado e o russo vermelho que comia criancinhas! ra ra ra ra ra!!!! mas meu irmão lia livro de um autor russo.

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Lia, mas não quando ia para Friburgo ou Petrópolis, para a Chácara dos Netos ou o Sítio Taquara...


Sat, Jun 02, 2012 5:41 pm

adorei essa imagem da água viajando daqui pra lá, levada pelos zéfiros
a gente sabe q é assim, mas não tem a imagem tão linda

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... e também o Mississipe retorna do Atlântico por essa atmosfera inacreditável!


Sun, Jun 03, 2012 11:55 pm

DEMAIS

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Merci.


Mon, Jun 04, 2012 12:34 pm

E enquanto você escrevia aqui já fazia 4h3min que era junho. :-) bjo

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Sim, por isto repeti o mainá de Huxley: aqui, agora... :-)

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