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Telefonema

28/05/14

Toca o telefone - a expressão é muito antiga e nem sei se ainda se usa! - mas o telefone toca e insiste com a insistência característica e irritante dos telefones antigos: primmmm... primmmm... Não corro para atender, dizem ser perigoso para um velho correr e, o primmmm continua e toma aparência, a cada vez, de entonação mais agressiva. Chego ao aparelho e atendo o chamado. Do outro lado, parece estarem apenas interessados no cumprimento, insistem: "bom dia". Pergunto com quem querem falar e - surpresa para mim! - a resposta é o meu nome (esclareça-se, aqui, não estar em meu nome a linha telefônica, daí a surpresa). Pergunto quem quer falar comigo - já estava falando, é óbvio! - e vem a resposta, para mim, totalmente surrealista: é da farmácia tal e tal.

Que mundo fizemos! Nem Dali, nem Buñuel ou Breton pensariam em tal ato surrealista! Logo me ocorre, todavia, que eu pudesse ter deixado cair por lá qualquer coisa - um documento, uma chave, por exemplo - e o telefonema fosse apenas para avisar, mas não, logo se desmascara o absurdo: "eu estou ligando para convidá-lo - acho que num português com acento mais norte-americano - para convidá-lo, ela disse, a passar aqui para conhecer as novidades..." a voz feminina seguiu por aí afora mas já não escutava mais, diante do que me parecia um absurdo incomensurável.

Agradeci. Desliguei. Sou de outro século e não estou acostumado a essas invasões, a essa fúria vendedora. Erigimos uma sociedade com uma visão utilitária do outro. Cada um vê os outros pelo filtro de seus interesses e com essa visão se fizeram as relações entre as pessoas, teceu-se a trama social.

Todavia transparece aqui um aspecto positivo no telefonema abominado e tachado de surreal: sem ele não teríamos esta conversa fiada num dia, aqui, úmido demais.

Wed, 28 May 2014 13:40:40 -0300

E viva o telefonema! bj

      sem assinatura

:-)


Wed, 28 May 2014 13:46:11 -0300

Ela vendia alguma coisa interessante pelo menos?
Que dias terríveis hein? Frio E umidade não combinam!!!!!!

Não sei. Depois de ouvir o convite para visitar a farmácia, estupefato, não ouvi mais nada!


Thu, 29 May 2014 19:52:09 -0300

Ah... siiimmm...

Vender, vender vender Comprar, comprar, comprar...

Apenas isso é o que importa pra maioria.

Infelizmente...

Mas não chega a doer.

bjo, mermão

      sem assinatura

Comprar e vender são duas coisas para as quais sou totalmente incompetente e me exigem grande sacrifício.

Para mim, dói.


Fri, 30 May 2014 13:50:32 -0300

É foda, né?   Eu sou do mesmo século que você.    Logo pergunto:  É telemarketing, meu bem?  Não quero nada!  Bom dia, boa sorte, boas vendas.          Ato contínuo, desligo.  Isso é porque, com o passar das décadas, fui ficando mais transigente.   Saudadíssimas ro

Nossa! Saudades também. Preciso atentar mais à transigência. . .


Fri, 13 Jun 2014 17:47:35 -0700

pra mim o mais surreal disso tudo, eh farmacia fazendo anuncio de venda
farmacia era lugar de remedio
remedio nao tinha propaganda
agora tem, eu sei
isso acho um absurdo
como se brinca coma saude alheia
auto medicacao, etc

      sem assinatura

Claro que não deveria haver propaganda de remédio, ou melhor, não deveria haver propaganda. Ponto. Por que deixar a outros 'pensar' por nós?

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