Tempo

01/02/02

A semana acaba e o mês começa com uma manhã carrancuda. O repórter reporta nuvens escuras e arrisca um palpite: chuva à vista. O homem do tempo, logo depois, dá mil explicações e garante: nada de chuva, o sol brilha logo alí, sobre essa evaporação provocada pelo excesso de calor e coisa e tal. Logo, logo brilhará cá embaixo também. O noticiário segue, como todos os boletins policiais: relatórios de homicídios, culposos e dolosos, estatísticas de seqüestros, cativeiros, prisões, reféns, rebeliões, descrições minuciosas de armamentos, tipos de munição etc.

De fora, o tamborilar não é de balas, mas de gotas nas folhas largas. Chove. A escuridão reportada, ou o suor da cidade, cai em prantos sobre as vítimas apressadas. Na capital do mundo, ferida, os donos do poder esboçam rumos para não perder o rumo. Sabem, melhor que todos, que o fosso entre pobres e ricos vai se alargar. Enquanto isso, o gorila de Israel vocifera que deveria ter matado o palestino, no Líbano, e bebido seu sangue ainda quente, há vinte anos ou mais.

A chuva pára. O homem do tempo dá novas explicações. Reafirma: teremos sol forte, calor e chuva no final da tarde. Na capital dos gaúchos outras vaidades clamam por um mundo mais humano sem a ditadura do Capital. Muitos têm gordura na barriga e nas contas bancárias. Revolução simples, de que parecem incapazes, seria fechar suas contas nos bancos. É preciso treino para enfrentar filas. O presidente Bucho rosna: a guerra deve continuar. Teme que acabe assim, de repente, por falta de inimigos. O outro, sem estagiária nem Casa Branca, diz, em palestra milionária, que o que "eles" gastam com armas daria para educar todas as pessoas do mundo e que, educadas, não haveria terroristas...

Do primeiro mormaço vêm sombras tênues no fim da manhã de uma semana que acaba, de um mês que começa...

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