Tempos momescos

24/02/17

Tempos momescos! Cada um aproveitará o feriado estendido segundo suas inclinações e possibilidades. Por trás da tradição, com origem na liturgia católica (lat.medv. carneleváre ou carnileária 'véspera da Quarta-Feira de Cinzas, dia em que se inicia a abstinência de carne exigida na Quaresma'), alteia-se a determinação primeira de Jeová à sua obra maior: "crescei e multiplicai-vos".

De todo modo, a mesma imposição vigora em todos os seres vivos e não exclusivamente no Homem. De toda energia vital despendida onde existe vida, a porção maior se empenha em garantir a próxima geração, me parece.

Esconder-se sob uma máscara, dançar com sobras de energia e pular e rodopiar e, ao mesmo tempo, cantar, em suma, extravasar a pressão física e psicológica do cotidiano viver, brincar e entoar versos irreverentes até se sentir menos responsável, seja lá pelo que for - eis a proposta primeira das brincadeiras carnavalescas!

Ao longo dos tempos depurou-se o repertório e muitas marchinhas se eternizaram na memória das pessoas e, sozinhas, decretam tempos momescos, o Império do Carnaval. Todavia, surgem guardiões de direitos e costumes, defensores de ideais e ideias e lutam para banir algumas das mais célebres marchinhas de velhos carnavais alegando conteúdos racistas e sexistas em suas letras.

Querem a proibição, são censores obstinados, acreditam na força e na lei e o debate sobre a conveniência ou não de "Olha a cabeleira do Zezé", "O teu cabelo não nega" e "Oh mulata assanhada", entre outros sucessos, pelo menos aqui no Rio de Janeiro, cresce e se espalha.

O tempo corre e chegou a hora da folia. Os censores verão suas súplicas abafadas pela poderosa voz de salões, baterias e orquestras populares a fazerem a população sambar e muito mais, obedecendo, sem atentar, àquela ordem inicial de Jeová.

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