Aquarela do autor

de esporadicidade imprevisível

Um novo judas

14/01/19

Ninguém conhece a loucura alheia, pois os pensamentos mais tortuosos, os desvarios mais íntimos, as manias mais contundentes jamais são divulgados. Tenho reclamado de meu novo telefone e ele tem lá seus defeitos, como qualquer coisa ou pessoa, mas funciona, telefona e fotografa, ainda que muito mal.

Pergunto-me por que tamanha implicância com ele e me descubro com atávica necessidade de um inimigo hipotético, algo ou alguém sempre disponível como alvo perene de desabafos e imprecações.

Nas últimas décadas, esse judas psicológico tem saído do Vale do Silício, provavelmente pela importância de seus produtos em nossas vidas. (Meu primeiro computador foi em 1991.)

No princípio, quase nada compreendia e tudo parecia maravilhoso. Encontrava cracks para os melhores softwares e podia trabalhar ou brincar com excelentes ferramentas, mesmo sem ter dinheiro ou como pagar através da "rede do tamanho de mundo", a internet.

Passado o deslumbramento inicial, a Microsoft tornou-se meu inimigo figadal. Ela e, é óbvio, um de seus fundadores, o senhor William Henry Gates III, o popular Bill Gates. No universo paralelo dos computadores, sabia-me indefeso ante o poder do sistema operacional do qual dependia.

Muitos anos depois, abandonei de vez o Windows e, a partir daí, comecei a olhar o "senhor portões" com outros olhos. Era preciso um novo judas e o eleito foi o Google, mecanismo que idolatrei de início mas, com o correr do tempo e do dinheiro, se transformou no abominável senhor de toda informação.

Agora, após violar meus votos de não ter smartphone, o poderoso e minúsculo instrumento surge como o potencial inimigo, responsável por todo mal, origem de toda tormenta.

(Vem-me o ímpeto de acrescentar ao parágrafo anterior um dos desenhos chamados emoji para deixar claro se tratar de brincadeira.)

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