fotografia de Vicente Kubrusly

Ventania

13/08/18

Um vento forte soprou continuamente, vindo de sudoeste e as ligeiras flutuações em sua direção — ora mais para o sul, ora mais para o oeste — confirmavam o deslocamento inclemente do ar na direção nordeste. O mar estava agitado, a ribombar e espumar com violência, porém seu ímpeto maior se manifestara na véspera, quando quebrou estrepitosamente a explodir em branquíssima espuma com efêmeros respingos lançados para o alto e muitos sprays finíssimos penteados pelos ventos, a confirmar os versos de Caymmi — é bonito, bonito demais.

Os mostradores digitais informavam um, uma temperatura de 22 e outro, de 24 centígrados, embora distassem apenas poucas centenas de metros e, além da temperatura, informavam data e hora, a angariar a atenção dos transeuntes para seus anúncios.

Nesta época do ano, caminham lado a lado pela avenida Atlântica corpos despidos, de sunga ou biquíni, ao lado de outros encapotados e protegidos por cachecóis ao redor dos pescoços.

Ao longo da avenida interditada para o lazer dominical, de suas calçadas generosas e pela ciclovia junto à praia, beirada de um oceano imenso, circulam bicicletas, triciclos, skates, patins, patinetes, cadeiras de rodas — muitos deles movidos a eletricidade — num ir e vir intenso. O ímpeto do vento era suficiente para empurrar os que iam e dificultar a volta dos que foram antes. Alguns pombos, me pareceu, tinham dificuldades em suas revoadas. As folhas mortas das amendoeiras eram varridas em bandos junto com detritos diversos descartados pelo chão.

As muitas bandeiras, que sempre decoram as areias da praia, tremulavam em seus mastros vergados pela violência do vento, como se prestes a se esfarrapar. Pouco depois, no meio da tarde do domingo, começaram a chegar as nuvens, que logo toldariam a abóbada, de norte a sul, de leste a oeste.

Mon, 13 Aug 2018 19:09:37 -0700 (PDT)

choveu?

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