autora: Mima 

Vento frio

30/06/14

Estamos no décimo primeiro dos 94 dias e meio deste inverno. Pela manhã, grossas nuvens povoavam o azul intenso e um vento intenso de fortes rajadas frias as varria para o desanuviar os céus e rumorejava ubíquo pelas copas das árvores. Pouco depois, o sol brilhava forte sob uma abóbada azul beleza. Começa o frio e com ele virão dias de céu azul, progressivamente mais poluído pois, se chover, será chuva escassa nesse lento processo de intercâmbio climático, quando o sudeste experimenta condições nordestinas e o sul sucumbe sob águas transviadas de outras plagas.

Sorrateiramente, a natureza rearruma os desarranjo humanos. Desde a adolescência me surpreende a capacidade natural de se restabelecer o equilíbrio. Seja em escala astronômica, seja na infinitesimal a natureza paulatinamente reencontra o equilíbrio. Pouco importa se forem precisos alguns milhões de anos para quem dispõe da eternidade, mesmo sem saber o que eternidade quer dizer. Assim, os desmandos provocados pela humanidade, tão caros às organizações internacionais ou não governamentais, logo se compensarão trazendo de volta o equilíbrio cantado por Gide e transcrito aqui em pleno verão.

O vento continua com lufadas geladas, mais e mais frias. É meio-dia e, apesar de pleno sol, os seres homotérmicos, pelo menos, buscam abrigo, precisam se agasalhar. Fica um consolo: o dia de hoje é alguns segundos menor do que o de amanhã e este novamente um pouquinho menor que depois de amanhã e assim sucessivamente até o solstício de dezembro, início do verão, quando os dias, após o ápice, começarão a diminuir.

Vou fechar a janela: o vento frio e contínuo desmente o termômetro, agora a indicar dezoito graus e meio do lado de cá do fim do mundo. Ficou aberta, deixemos o ar circular. As sombras longas desmentem o horário: meio-dia e meia.

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