Publicação esporádica, destinada a se perder como o mugido da vaca, que continua a mugir apesar de se declarar inútil seu berro.

Viagem

04/02/09

No meio de seu jardim de delícias, Jeová botou a árvore do conhecimento, aquela cujos frutos, se consumidos, abririam as portas da percepção, permitiriam ver, nítido, o bem como bem e o mal como tal. A lengalenga da cobra e da esposa primeira é por demais conhecida para aqui a repetir, mas uma volta pelo Paraíso, ainda que em conto da carochinha, estimula elucubrar aos abstêmios da fruta proibida.

Por que, antes da violação - e, aqui, dona Sabrina, cuido da violação da lei. Da outra, se couber, cuidarei depois - antes do pecado primeiro, responsável por tamanha bagunça, vedar às divinas modelagens em barro as portas do discernimento? Por que os condenar à ignorância, à cegueira intelectual, à impossibilidade de compreender? Por que temia Jeová que seu barro se fizesse sábio?

O primeiro efeito da ingestão do veneno - se não o for para o corpo, transtornou para sempre tudo que corpo não é - o primeiro efeito, dizia, foi encher o par de pudores e lhes impor a roupa primeira, sem frio para a justificar. Por que o corpo da esposa assombraria o marido e vice-versa? Para que um casal antes de inventar o 'pecado carnal'? O escultor planejou o crime de seu barro?

Mais: para que homem e mulher sem o desejo? Se o desejar dependeria de comer do fruto assinalado? Sem sexo, de onde viriam os bebês? De repolhos? Chega de por quês sem respostas! Tudo ignoro, jejuno do fruto da árvore da ciência dos juízes.

explosão de uma super-nova [internet]
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"Oh, escravo da razão! Deita fora toda equação causal, toda lógica, toda explicação e deixa ao símbolo simbolizar, evocar, infundir sensações e emocionar. Cala o falatório estéril e segue a senda dos sentimento." Ecoou a voz antiga a confirmar seu dono, Satanás e a desaceleração do trem balançou alguns que iam de pé. Pelo alto-falante a voz do motorneiro anunciou: próxima estação, Paraíso.

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