desenho de Mima Crônica do dia

[No fim, cada mania acha seu louco.]

Viva a vida!

30/04/08

Perguntaram-me se não canso de falar do tempo e do cão, com eventuais pitadas de nuvens e folhagens. Ainda não, responderia com sinceridade ao leitor - ou seria leitora? -, ainda me agrada falar da vida ao alcance dos olhos, embora falar do tempo, das condições climáticas, seja sinônimo de falta de assunto ou pretexto para abordar um desconhecido ou a bela que se quer conhecer. O frio, a chuva, a canícula e outros meteoros costumam ser o fio primeiro a puxar conversa com quem não se conhece.

Vou me cansar, é claro, da falta de assunto. Cansou-me antes, porém, falar das intrigas e futricas que tecem as relações dos homens. Não me ocorre falar dos assuntos das manchetes, com os quais os mais diversos interesses tentam moldar emoções e pensamento de uma coletividade. Não saberia comentar política ou políticos, meter o bedelho em crimes horripilantes ou saborear com disfarçada inveja ostentações dos ricos ou famosos.

Além do mais, não saberia fazer crônica policial nem esportiva, como não soube ser repórter-fotográfico, pois me foi impossível, frente a um evento grave - um acidente, a humilhação do mais fraco etc. -, restringir-me a documentar. Outros temas ocorreriam naturalmente de um perambular entre pessoas, onde quer que fosse. Mas retirei-me e, hoje, vivo como eremita, por opção.

Ainda assim, jamais deleitar-me-ia em delatar corrupções - não julgo nem fiscalizo ninguém - e, muito menos, iria me proclamar metralhadora giratória em pose de Vesta impávida a navegar um mar de lama ou de outros fluidos menos declináveis.

A vida e sua pujança, sua garra em perpetuar-se, do ser microscópico capaz de nos derrubar à árvore monumental que nos sobreviverá, a vida viceja alheia às mazelas humanas, aos feitos eleitos para confeccionar manchetes e, se acabarmos com tudo, na certa ela voltará.

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