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2006 molhado02/01/06O ano se inaugurou, aqui, molhado. E deixou a natureza toda molhada, até no momento nada astronômico e muito cartorial do foguetório e cores Os céus regaram terra e plantas com o líquido precioso e fertilizador, para as deixar molhadas, ora por chuvisco mais palpável, ora por garoa tão gentil de tanta sutileza que some na barulheira absurda e nas fumaças das lindas e efêmeras luzes coloridas. Molhada, a natureza se abriu ao novo ano enquanto, sobre folha larga e grande, alheios à garoa e ao tiroteio, estimulados, quiçá pelo céu iluminado, quatro pontos luminosos passeavam em uníssono, como de mãos dadas, ocultos na noite, que só mostrava os quatro olhos verdes fulminantes de luciferina e luciferase em reação de magnífico efeito. Ah, roubaram aos pirilampos seu velhíssimo segredo para adorno de tornozelos e braços e pescoços e rostos encantadores, pois há milênios se busca toda magia e tecnologia para ainda mais iluminar a mulher, mesmo a mais bela! Apesar de molhado, mal o dia clareou e uma sinfonia inusitada foi o prenúncio do sol que não se veria no horizonte logo depois. Hoje, o sol nasceu às seis horas e 25 minutos, horário de verão. Uns dez minutos antes, duas ou três cigarras começaram a cantar muito alto, como lhes é peculiar e, com elas, cantou toda a bicharada, na certa tudo bicho molhado, já que não parou de chover por toda madrugada. Grilos! Grilos que conseguem emitir som molhados. Um galo e pássaros, todo tipo de passarinho entre pios e cantorias. Todos juntos, não sei por quê. Durou pouco e o silêncio molhado voltou. Venta muito. Borboletas voam com dificuldade. Andorinhas, ao contrário, fazem evoluções incríveis. Aqui embaixo, o vento vem de nordeste, mas as nuvens correm de oeste a leste e, mais alto, elas parecem imóveis. Três gaviões passam em formação de esquadrilha. |
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