Como ontem, às cinco e meia da manhã, o repórter informou que se anunciava um dia ensolarado e quente devido ao céu esplêndido e à faixa alaranjada no horizonte. Como ontem, esqueceu-se que os primeiros raios de sol movem os ares e evaporam os mares e, além de termais para elevar urubus, fazem o vento soprar do mar para a terra, cheio de umidade.
Vento cujo nome aprendi no primário, esqueci e procuro em vão por toda parte. O outro, que sopra de tarde, em sentido contrário, também tinha nome, que também esqueci. Sem dois nomes de vento, volto àquele que trouxe o tema e sopra do mar e traz umidade, muita umidade para fazer a plantação sorrir e a bicharada se encolher, fora sapos e semelhantes.
O sol se anunciou e até bateu bonito no começo do dia, mas logo se cobriu de nuvens densas, que o vento frio, mais frio por que muito úmido, trazia.
De repente, debaixo da grande paineira uma sabiá entoou pio grave e repetido, espaçado, sempre na mesma nota. Evocava voz de galinha, mais aguda, mais forte e limpa. Em pouco tempo começaram a chegar sabiás de todos os lados. Muitos, machos e fêmeas. Pousaram pelos galhos da paineira e ali ficaram. A sabiá continuava seu chamamento sempre na mesma toada. Alguns dos que acorreram também se puseram a piar, mas com outras vozes, outros dizeres.
Saí de debaixo da árvore para olhar o céu. Queria saber se havia sinal de gavião. Nada. Apenas andorinhas em seus vôos de flecha que, por qualquer motivo, davam rasantes rente a paineira. Talvez a rapina já se tivesse consumado e aquela sabiá fosse uma mãe desesperada. Talvez não. Em pouco, vai-se um dos que vieram, depois outro e, um a um, vão-se todos. Ela cala por fim.
desenho de LuGuidorzi
O sol aparece e some por entre buracos das nuvens. O vento também sopra e pára, frio, de sudeste. É verão, um verão que não parece verão.
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