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O gosto do fruto26/12/05O sol apareceu cedo, ao contrário das previsões. Da mesma forma o céu se livrou dos últimos véus e se rasgou em azul puro e calmo. Um vento suave acentuava a temperatura baixa para a estação, mesmo nas primeiras horas da manhã. Depois, o dia se aqueceu aos poucos. Às dez horas, mais ou menos, o sol brilhava forte e o dia era límpido. Ninguém em parte alguma, devido ao êxodo do fim de ano. Surgem dois faróis acesos sob uma carreira de luzes coloridas a piscar. O carro desce devagar a ruela perdida no fim do mundo. Ao passar diante do portão vejo que é da polícia florestal. Leva três pessoas que consultam uma folha de papel. Pelo que parece, o papel as guia. Há uns dois ou três anos um vizinho se viu às voltas com uma árvore cujas raízes racharam-lhe uma parede. Eu tenho todo um piso externo em estado de terremoto provocado pelas raízes da grande paineira. Trazemos as árvores para perto de casa sem visualizar a diferença imensa entre a semente e o vegetal adulto. O tal vizinho, então, decidiu pelo extermínio do problema. Não ia dar para cortá-lo pela raiz, mas queria o mais próximo possível. Vieram os especialistas na difícil arte de podar grandes árvores e, pouco a pouco, os grandes galhos desciam por cordas grossas. Aqui embaixo, pareciam outras árvores. O trabalho estava perto do fim quando apareceu do nada um jipe da polícia florestal, que vinha adrede para multar e tomar informações sobre aquele ato ilegal... Não cobro ação de polícia acolá em vez de cá. Tanto faz, melhor seria não haver polícia. O que me assusta mais e mais é a sociedadedurismo que aperfeiçoamos a cada momento. O que me impressiona é termos abandonado todo princípio. Tu delatas, ele delata, vós delatais. Eu, não delatarei. Não sei o que é certo o que, errado. Esqueci, se provei, o gosto do fruto da árvore do paraíso. |
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