O tempo desafia a inteligência humana. Se cada cabeça é uma sentença, cada uma é, também, seu cronômetro privativo. Aquele tempo, contado no relógio universal de Deus, desmoronou ante a Relatividade de Einstein e, na psique do Homem, o tempo assume todos os véus de Maia. Hoje ou amanhã ou ontem, se completam vinte e um anos do fim, não é possível saber ao certo. A morte é uma certeza cuja comprovação está em permanente modificação. Foi-se o tempo do não embaciar o espelho para certificar o término da vida. Depois, conferia-se o bater do coração, a pulsação como indício inequívoco da persistência da vida. Por fim, foi preciso inventar a 'morte cerebral' - o coração continuava a funcionar, os pulmões continuavam a respirar, os rins a filtrar e assim todo o corpo seguia vivo, mas se dava a pessoa por falecida, segundo medições elétricas precisas do funcionamento, ou não, desse mistério maior, o cérebro. Daí a imprecisão, para mim, da data exata do fim. Tinha apenas vinte e dois anos, pouco mais, teria, hoje, mais de 43. É uma maioridade terrível esta da morte precoce. Não quero conclamar motociclistas a serem cuidadosos nem alertar motoristas sobre a brutal diferença das massas, sobre a energia crescer com o quadrado da velocidade, nem lamentar, nem nada. Nem ao menos sei o que aconteceu. Foram vinte e um anos com um vazio sempre transferido para ano seguinte. É uma inversão inaceitável - os pais devem morrer antes dos filhos. Inversão a contradizer o fluxo normal da natureza, como se o rio subisse a montanha, como se o tempo escorresse para trás. Desafio a humana compreensão, o tempo varia, também, conforme a emoção. Um mesmo intervalo de tempo, ora parece imenso, ora o breve instante de uma piscadela. Hoje ou amanhã ou ontem, se completa a maioridade deste fim. |
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