— Eu gostaria tanto de saber o que se passa na cabeça desse cara! — ela o disse sem se dirigir a ninguém em particular, enquanto voltava de um aparador onde estavam um balde com cubos de gelo, garrafas de bebidas, copos e taças, além de um sifão com água gaseificada. O cavalheiro a escutou e iniciou conversação, atendendo ao mandamento primeiro, pois antecedeu de muito as tábuas mosaicas, embora não almejasse de pronto fazer crescer nem multiplicar sua espécie. Dirigindo-se à dama, perguntou: posso saber de que cérebro se trata? — e acrescentou: tintim! — oferecendo seu copo ao brinde. A dama brindou, apesar de não compreender de imediato a pergunta mas, em seguida, sorriu e desafiou o cavalheiro: adivinha, não é difícil e garanto que tu tens tudo necessário para saber a quem me refiro. Vamos, tenta — estimulou. O cavalheiro, um pouco aturdido, ensaiou um sorriso meio ressabiado e ao mesmo tempo procurou manter o esgar em sua face enquanto percorria com o olhar as pessoas ao redor na esperança de poder descobrir a cabeça objeto da curiosidade de sua interlocutora, aquela cujos pensamentos ou ideias ela tanto almejava conhecer. Em seguida, desistiu: não sei, não consigo atinar. Seja boazinha e me diga qual a cabeça cujos pensamentos despertam assim sua curiosidade. Enquanto falavam, iam em direção à lareira. A dama, com charme de senhora da situação, se jogou numa poltrona mole e sorriu enquanto analisava o cavalheiro. Chuta — ela sugeriu e observou — o pior que pode acontecer é tu errares. Ele, visivelmente tenso, balbuciou: não sei... Ela riu abertamente e falou: ora, na cabeça do autor, é óbvio, somos ambos personagens, existimos apenas aqui neste mundo da imaginação, seja a do autor, seja a do leitor. Não ficas curioso para saber o que vai na cabeça daquele que nos criou? |
Wed, 30 May 2018 09:11:21 -0700 (PDT) nossa! que coisa maravilhosa sem assinatura Que bom que gostastes. |
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