Aquarela do autor

de esporadicidade imprevisível

Caminha

22/04/18

Passaram-se 518 anos! Cinco séculos e uns trocados! No dia de hoje, há cinco séculos e 18 anos, as caravelas cabralinas aportavam em Porto Seguro, na futura Bahia de todos os santos e baianas e baianos indolentes ou ardentes. Pelo menos, no remoto Primário de minha infância, aprendi a assim celebrar o vinte e dois de abril, dois patinhos na lagoa a confirmar nem sempre ser quatro o resultado de dois mais dois.

A História, também ela, muda e se atualiza e se corrige. Não sei se persiste a data da chegada do escriba Pero Vaz de Caminha e companheiros. Em sua carta a El Rei Dom Manuel, relata-se pasmo diante da nudez de índios e índias e, com humor e malícia, conta que "uma daquelas moças era toda tingida de baixo a cima, daquela tintura e certo era tão bem feita e tão redonda, e sua vergonha (que ela não tinha!) tão graciosa que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhe tais feições envergonhara, por não terem as suas como ela."

Difícil pôr-se em um evento a tal distância no tempo e é quase impossível alguma empatia com antepassados tão remotos. Mas nem por isso a imaginação se omite e esboça, então, o quadro de um outono distante, quente em abril e em praias virgens e tropicais, onde, do mar imenso brotaram caravelas com velas enfunadas e bandeiras a tremular diante de olhares inocentes, acostumados apenas aos frutos da terra, da caça e da pesca.

Embora sociedades distantes muitos séculos quanto a cultura e tecnologia, tanto as moças com suas belas vergonhas como os lusitanos com as agruras de marinheiros, demonstravam no encontro inesperado sermos todos o mesmo Ser Humano, fragmentos dispersos de uma mesma humanidade.

O whatsapp daquela época levava meses para cruzar o Atlântico e chegar com as novidades a Portugal e a caligrafia bonita de Caminha era o melhor veículo de comunicação.

Sun, 22 Apr 2018 20:05:21 -0300

Mais uma vez, um texto delicioso... misturando com o que os portugueses nos ensinaram, no meio de todas as sacanagens que eliminaram as delícias de um tal de... Brasil...
     bj

      sem assinatura

Obrigado.

Brava gente portuguesa... Naqueles idos éramos pouquíssimos sobre esta bola...


Mon, 23 Apr 2018 08:32:54 -0300

Oi, Clôde

Mês cheio história... mas só lembrei do Tiradentes...

E coincidência: estou relendo Eduardo Bueno, “Capitães do Brasil”
(sobre as Capitanias Hereditárias); e tinha relido recentemente , dele também,
“Náufragos, traficantes e degredados” - sobre os primeiros europeus a se
instalarem por aqui depois do descobrimento. Ele tem também “A viagem do descobrimento”,
que eu tinha e não sei onde foi parar. Você conhece? São interessantes e às vezes divertidos,
com histórias meio escabrosas de corrupção, apadrinhamentos etc etc - não é de hoje...

Bjs
Ana

Oi, Ana,

Não, nunca ouvira falar em Eduardo Bueno e, nos estudos, sempre fui péssimo em História. Só depois de velho comecei a vê-la com outros olhos.

Li, todavia, de meu pai, hoje comigo, "Arte de Furtar, Espelho de Enganos, Theatro de Verdades, Mostrador de Horas Minugadas, Gazua Geral dos Reynos de Portugal" Offerecida a El Rey Nosso Senhor D. João IV, para que a emende, do Padre Antonio Vieyra. Livro maravilhoso sobre as safadezas e falcatruas de então (1652).

O homem continua o mesmo há muitos séculos...

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