Vieram mais reclamações sobre o último parágrafo de ontem do que as do rodapé da crônica. Algumas faladas, sem um documento para as registrar. Todos, clamores femininos condenando o parágrafo por machismo, preconceito e generalização indevida. Sem pose de bom moço nem mocinho, tento esclarecer o que não coube em três ou quatro linhas. Não deprecio ao sublinhar uma qualidade que as fêmeas - o termo é por supor um atributo herdado de antes do homo sapiens - que as fêmeas adquiriram, dizia, ao lidar com concorrentes na disputa pelo melhor macho. Caberia um paralelo com a brutal violência característica do homem. Por diferentes caminhos cada um encontrou sua solução na dura estrada da evolução. (E, é óbvio, ainda tem muito chão pela frente...) Tomo um único episódio como exemplo do que a minha observação pessoal chamou de 'curiosidade inevitável com que uma mulher analisa e decifra outra'. Aconteceu em 1990, quando faltavam poucos dias para o fim do governo Quércia e, num fim de tarde numa assessoria da Secretaria de Estado em que trabalhava, uma mulher elegante, vistosa, mas não linda, da equipe do próximo governador, entrou porta adentro e perguntou aos presentes, pouco mais de uma dúzia, onde ficava a sala de fulano. Com a resposta, se foi. No instante em que a porta se fechou atrás dela, começou uma calorosa discussão - deveria dizer uma ladainha de críticas à intrusa? Todas a mulheres na sala criticavam seus sapatos, sua roupa, sua bolsa, seus brincos, sua maquilagem etc. Em segundos disseram cobras e lagartos da estranha, ante a perplexidade dos homens daquela sala. Eu nem notara se ela usava brincos, ou não, se estava descalça, nada. Lembro-me da cena dezoito anos depois. Ontem, só quis falar deste aspecto da natureza feminina: a destreza e rapidez com que dissecaram a intrusa. |
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