Valdisnei estava nervoso - só sua mãe pronunciava seu nome como ela quis, como o nome do outro: Walt Disney. Os demais diziam Valdisnei mesmo, oxítono, com a tônica no ditongo final.

Está nervoso Valdisnei? Ele responderia com um sorriso que não sorri, mas tinha as pernas bambas. Aos palhaços parecia fácil levar a criançada à mesma algazarra que celebra a hora do recreio. O próximo a entrar em cena seria Valdisnei em sua estréia para uma platéia de verdade. Antes, alguns truques para sobrinhos e sobrinhas, umas mágicas para amigos, tudo sem compromisso. Agora era para valer.

Nos primeiros truques seus dedos começaram com leve tremor. Por sorte o público não percebeu e, como dependia deles, dedos, para cada fenômeno, logo os dominou e, com o calor dos aplausos, os aqueceu. O palco parece um ser capaz de rejeitar ou acolher quem o encara e enfrenta. A apreensão e a ansiedade de Valdisnei, antes de nele pisar, se desmancharam sob as luzes e o calor dos olhares curiosos e atentos da platéia. No aconchego do aplauso, o espetáculo fluiu.

Por fim, chegou o grande momento, o desafio maior - mágica antiga, sempre capaz de arrancar um oh! sincero da platéia, caberia a Valdisnei, agora, transformar água em vinho. Tomou as taças, exibiu sua transparência e vacuidade, encheu uma com água de uma jarra de vidro e ofereceu a um espectador para comprovar tratar-se de água pura da bica. A seguir, verteu do mesmo pote em mais taças idênticas e tirou com pequeno truque 'do ar' um vistoso lenço de seda...

Quando ia cobrir as taças enfileiradas com o lenço, antes de 'fazer' o truque, percebeu que já não continham água. Assustado, tentou imaginar o que poderia ter acontecido. Segurou firme uma delas, sob o lenço e, com pequeno discurso, anunciou o milagre, isto é, a mágica. Provou. Era um tinto maravilhoso! Valdisnei convidou o público a compartilhar.