|
Lápis atrás da orelha08/05/07Com a invasão das maquininhas de calcular foram-se os lápis atrás da orelha, sempre prestes a fazer contas em qualquer beira de folha, fosse de caderno ou jornal. O vendedor chegou tentando expor as caixas como cartas de um baralho. Em uma esquina perdida do lado de cá do fim do mundo ele se esforçava, com meia-dúzia, ou mais, de calculadoras de balcão em embalagens precárias e ia logo anunciando os preços - tem de dez e de quinze reais. Quer dizer, digo eu, de cinco a oito dólares, se tanto! O comentarista comenta, o estatístico cospe números. Quando os dados são eloqüentes o comentário e a estatística se tornam supérfluos: encontro um anúncio de maquininha similar no Scientific American de maio de 1974, há exatos 33 anos. Preço: 59,95 dólares, quer dizer, no mínimo dez vezes mais cara - não estão computados custos de importação e venda do lado de cá do fim do mundo, além das prováveis diferenças de funções. Todavia, proclama o poeta: prefiro os que sem serem pais de Cristo, tinham os nomes de José e Maria, além da quitanda de esquina, com portas de batentes de granito, com era comum por ali. Atrás do balcão, seu José, meio baixo, sotaque que nunca perdeu a nos lembrar nossa condição de colono e seu 'feudo' adaptado à esquina urbana, então sossegada, com os cômodos onde moravam separados por uma cortina da quitanda. À direita de quem entrava, em pequeno quintal , criavam em gaiolas algumas aves, também para vender: galinhas d'Angola, patos, perus etc. Seu José revezava-se com a mulher, mas o mais do tempo era ele ali, no plantão do balcão. Quando se lhe pediam ovos, examinava um por um sobre um furo de uma caixa de madeira com uma lâmpada acesa, antes de os colocar no saco de papel. Na hora de fechar a conta, puxava o lápis de trás da orelha e somava no papel de embrulho cinzento. Depois, com mesmo papel fazia o pacote. |
|home| |índice das crônicas| |mail| |anterior| |