O velho Larousse tinha como emblema uma mulher que soprava uma flor e o sopro dispersava as sementes pelos ares. Por aqui, essa flor dá em toda parte. Agora está cheio delas. Abaixo da imagem se lia: "je séme a tout vent" - semeio com todo vento, ou com qualquer ventinho.
Desde de muito cedo essa minúscula imagem me atraía. Hoje, como não sei o nome dessas flores, as chamo simplesmente de "je séme a tout vent". As estratégias que as plantas desenvolveram para conquistar territórios distantes, sem pernas nem asas e na dependência das raízes, são surpreendentes. No inverno, outra maravilha me deslumbrou:
"No chão de cimento queimado à colher, batido pelo sol de quase inverno, a cápsula verde remeteu imediatamente a tempos remotos e a remotas lucubrações pródigas em vaidades e carentes de toda maturidade. A pequena cápsula, translúcida e túrgida, viera de erva abundante com nome de vagabunda: maria-sem-vergonha.
Em verdade, trata-se de uma inflorescência ou algo assim, a flor, mesmo é amarela e de aspecto bem comum. Mais uma maravilha da natureza. (passe o ponteiro do mouse sobre a foto para ver)
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Não sei quando a pequena maravilha me deslumbrou pela vez primeira, mas mesmo sem saber desde quando fico bobo com o método que a maria-sem-vergonha usa para se reproduzir. Esse pequeno fruto, que nos assusta ao explodir ao menor toque, quando maduro e pronto para lançar longe suas sementes, como catapulta, ...."
Parava por aí, mas lembro bem que, quando a cápsula vazia, lançada pela plantinha, que estava a um metro e pouco dali, aterrissou e me assustou, ocorreu-me que deve ter sido diante de algo parecido que nossos avós, antes mesmo de conhecer o fogo, talvez, exclamaram um som que valia uma palavra ainda por se inventar: Deus!
Depois, mataram Deus. Não se encontrará deuses e deusas nos shows deploráveis - que deveriam ser proibidos para menores de 169 anos de idade - que seitas e curandeiros exibem nas televisões. Deusas e deuses só se podem encontrar em mim e em você.
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