Gênesis
22/09/05
No princípio era o dia da árvore. Plantava-se a muda com todo mundo, na escola e, eu pelo menos, nem sabia porquê. Depois, aquela mulher que não me era mãe explicava a primavera e falava da estação, de folhas tenras e flores perfumadas, mas esquecia de explicar o que era tenra e, pior, que não se tratava de estação de trem.
Estação sem trem nem bonde, como as outras. Estações abstratas, que existiam independentes de trilhos e trilhas, de passageiros e passagens. Algo como a rosa-dos-ventos, a flor que aponta outra abstração, o norte. Teorias sem cheiro nem aconchego.
Como norte-sul-leste-este, estações se pintavam em fantasias, feitas de flocos de neve e papais-noéis, árvore pelada, despojada de toda folha, ou a esbanjar dourados e grenás e por aí evoluía, de fantasia em fantasia, carnaval importado, pouco importa. Fantasias decoradas e regurgitadas para se saber de cor.
Corações de criança. Estações sem trópicos. Explicações de quem não entendeu. Foi-se a primavera - tempo de explosão, procriação, quando a natureza cuida de se garantir em cada canto e por todo canto para a alegria do verão, o deslumbramento do outono, o silêncio do inverno.
Hoje, dia de inverno, noite de primavera, como todo dia é dia de quatro estações. Em trópico que dá frutas o ano todo. Campos, matas e lojas cheios flores o ano todo. Onde cada árvore se troca quando bem entende.
Zero Sul - 67 Oeste --- 22h23 GMT
A tecnologia deu seu salto mortal. Todos anunciam com precisão o equinócio: por Greenwich, 22h23, por Brasília, 19h23. Dia com seis minutos e 41 segundos a mais que as 12 horas teóricas. À noite, é óbvio, faltará esse tanto.
Entre os recursos de hoje e a doutrina de ontem lembro Ataulfo Alves: "Eu daria tudo que tivesse / pra voltar aos tempos de criança. / Eu não sei porque que a gente cresce / se não sai da gente essa lembrança"...
Bobagem, logo será verão, bom equinócio para você!
tema sonoro de Jorge Kubrusly
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