Em forte abraço, a névoa tudo devora nesta manhã, no fim de mundo das bandas de cá, a repetir as últimas alvoradas e, a tomá-las como exemplo, logo deverá despontar um sol, tímido de início, que paulatinamente se fortalecerá em um céu sujo pela escassez de chuva. Mal se distinguem todos os cantos do terreno enquanto o céu clareia rápido e se avizinha a primavera.

O presentinho me indica, preciso, em belo líquido vermelho, onze graus Celsius, mais ou menos uns 52 Fahrenheit, a dois metros do chão. Basta pô-lo sob um beiral para que a medida se altere. Em 'sua morada', pendurado na face sul de uma coluna externa, o termômetro indica dois graus Celsius e meio a mais, apesar de, ali, nunca receber luz direta do sol, mas a coluna, sim.

O Homem se imagina e pretende sempre comandante da nave que ele próprio é. Mas, freqüentes brumas lhe toldam o horizonte ou calores retidos, sabe-se lá por que colunas, podem lhe falsear os fatos ou desviar a agulha. Em verdade, navegamos, Vida afora, sempre a farejar, meio cegos.

datura - [imagem da internet]

Branca e perfumada flor se assanha, escancara pétalas e exala perfume, que inebria e atrai até humanos. Segrega e oferece seu néctar a vespas, zangões, abelhas, beija-flores formigas e mil outros insetos e bichos, que possam, em troca da gota de prazer adocicado, consumar o desígnio maior de cada Espécie - não, não se trata aqui de cada Ser e, sim, da Espécie! - consumá-lo, dizia, ao transportar seu pólen até outra flor ou, com aquele que já traz de outra, fecundar seus óvulos, ou ambos.

Vendavais, correntezas, imprevistos (ainda que estejam em outras previsões!), tudo isso, conduz mais a nave que a determinação de seu comandante e, quando ela soçobra, se ele afunda também, é porque, no fundo, são uma só coisa.

Esboçam-se as primeiras sombras, tímidas, quase imperceptíveis, a anunciar o sol.