Contra céu azul pálido de névoa ou poluição, nesta manhã que chegou com 13 centígrados, uns 56 fahrenheit, do lado de cá do fim do mundo - termômetro novo! presentim! presentim!, exulto como Guido, alter ego de Fellini, em Otto e Mezzo, que ao ganhar um relógio de pulso do produtor, personagem do filme que se faz no filme, sai pelo meio de todos a exibir o regalo e exclamar orologino! orologino! -, contra um pálido céu azul, pois, o primeiro sol destaca os galhos quase nus da árvore estrangeira, do liquidâmbar. Não estão nus porque lhes sobram algumas folhas amareladas, outras marrons, sobras de um outono que para ela, árvore, falta rematar e, nas pontas destes mesmos galhos, explodem brotos das que logo se abrirão, como se flores fossem, botões de folhas de um verde tão tênue a evocar rosas brancas... e ainda é inverno no trópico de Capricórnio apesar de que há muito a primavera já se fez.
Todos os anos a pinto aqui em cores de vegetação. Das flores rebentadas, do viço e lume da folhas tenras, da pujança com que novos ramos se esticam e conquistam cada palmo de praia, pois comem a luz do sol. Desta vez, roubam a cena os bichos. É intensa atividade dos casais de passarinhos na construção de ninhos. Com muita alegria, a natureza cuida da próxima geração.
Cada ninho se faz com muito trabalho e muito zelo. É tal o carinho por sua "ilha paradisíaca" que algum poeta distraído o poderia chamar "amor". O pequeno pássaro de peito cor de palha e asas pretas, com dois riscos brancos sobre os olhos, faz piruetas sobre um ramo, como num palco, num show para mim. Intrigado, observo o bichinho. De repente, vem da esquerda e passa como flecha sua companheira. Ela sai de um ninho que só encontro depois. Na certa ele procurava me distrair para que não descobrisse o ninho com ela lá...
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