É célebre a história do sujeito que comprou um porsche por uma bagatela, repetida aqui há mais de onze anos. Criou-a um psicólogo norte-americano cujo nome esqueci, para ilustrar o abismo existente entre a justiça dos homens, milenar, e aquela das mulheres. A mim sempre fascinou a diferença dos softwares de cada gênero e, aqui, o que parece chiste pretende sublinhar a existência de outra justiça, no caso, feminina. À história, portanto, do porsche anunciado num jornal dominical, em poucas linhas perdidas no caudal de letras miúdas: vendo porsche assim e assado, no endereço tal. Ele foi atrás, bem cedinho, acalentando um sonho antigo e já se preparando para a inevitável frustração ante o preço inacessível. Chegou e tocou a campainha, doido para ver o carro, pois era por isto que vinha. Demorou e a senhora elegante atendeu e, ao perceber sua ansiedade foram logo à garagem. Diante do carro alucinante, temia a pergunta fatal: qual o preço, por favor? Com mesma fleuma a senhora declarou: são dez reais. Trêmulo, pensou em confirmar, mas logo sacou o talão e preencheu o cheque. Pagou. Ela pegou chaves e documentos, assinaram a papelada e ele partiu. Mas alguns quarteirões adiante, lhe doeu a consciência por assim enganar a pobre mulher. Voltou: senhora, a senhora sabe o valor deste carro? O preço dele no mercado? A mulher disse que sim, sabia o preço sim. Vendera, estava vendido. Intrigado, se perguntava por que vender barato assim, e arriscou: se é assim, madame, por que não doa de uma vez? Ela retrucou: explico por que seu cheque para mim é essencial: meu marido foi para a Europa com a amante alegando ir com o sócio. Com ela gasta fortunas e, quando o dinheiro acaba, me escreve. Outro dia veio o telegrama - seco, incisivo, fatal: venda o porsche, mande o cheque, assinado: Demerval. (A Justiça é feminina, basta ver no dicionário, diria uma amiga.) |
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