O Acaso põe o disco errado, que há muito cala e desperta a música sabida com sabor de primeira audição a transportar o ouvinte imprudente através de imagens e bobagens. Beethoven a fez como profecia do desenho animado, sabia que seria inventado, cochicha um grilo desmiolado enquanto emerge de tempos de quase meninos a orquestra fantasma, impecável, sob a batuta, imaginária do irmão. O magnífico Beethoven - mágico! - a descortinar mundos, esboçar todos os caminhos, todas as possibilidades.
A Sexta Sinfonia envolve, se apossa por completo e de tudo até que outro grilo sussurra: se conhecêssemos os passarinhos de lá - e este lá é a aldeia que lhe inspirou a sinfonia - compreenderíamos melhor... ao que outro retruca: não há que compreender, é para escutar. Só escutar de corpo, alma, coração e o que mais houver. A sinfonia dança e faz dançar. Pia um pássaro... ou um instrumento? Vem o terceiro movimento.
A algazarra dos camponeses, diz o título, mas é também Beethoven e logo um maravilhoso, realista e assustador temporal interrompe a festa. É tormenta para se ouvir sem respirar. Dura um instante - tempestade de verão. Uma encantadora escala ascendente leva ao éden.
O jovem Beethoven [da internet]
Depois da tempestade descortina-se um dos mais encantadores trechos de música que se fez, literalmente encantador. O sol acha um buraco em meio a nuvens zangadas, neste dia muito frio de inverno. O verão e o inverno se tocam através dos séculos e léguas e línguas e a natureza ensolarada dança com Beethoven o último movimento da Sexta.
Árvores acenavam ao mestre. O bambuzal a ele se curva em gesto oriental, sob o vento. Passa uma pomba rente ao telhado. O mestre de Bonn faz bailar do lado de cá do fim do mundo. Um bando de pequenos pássaros cruza em formação, de norte para sul. O cão me olha, curioso. Ele, como este movimento, está sempre alegre.
Toda natureza parece agradecer pelo Allegretto.
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