No sábado ensolarado fiquei a ver navios. Não no sentido clássico da locução, de sofrer alguma decepção, não, no literal, maravilhado ante a vastidão do horizonte a provocar-nos a imaginação. Acompanhava o movimento de chegar e sair das embarcações na vastidão líquida a se quebrar a meus pés em espumas brancas que se desfaziam nas areias dragadas do fundo daquele mesmo mar. Deleitam-me ambos ir e vir sobre as águas salgadas do Atlântico.
Os navios, uns maiores, outros menores, ao se afastarem rumo ao encontro do céu com o mar, diminuem progressivamente, é óbvio, mas não desaparecem por se reduzirem a um pontinho imperceptível, não. Lá, bem longe e já pequeninos "afundam", nas águas profundas qual submarinos, a proclamar o formato esférico deste planeta deslumbrante. Demora para "submergirem" — uns mais, outros menos. São muitas as variáveis a determinar o tempo tão diferente de um para outro.
Lá longe os navios parecem afundar... (Chipre vista da Estação Espacial Internacional)
Durante todo sábado, assim como na véspera, o vento soprou de sudeste, com intensidade entre forte e moderada. Muitas embarcações seguiam contra o vento, nos rumos do Cabo da Boa Esperança, no extremo africano, ponta decisiva para as grandes navegações do final do século XV, início do XVI. Nos mastros embandeirados a se sucederem pela praia, as bandeiras agitadas eram indicação inequívoca do sudeste obstinado. O céu límpido e muito azul riscava um horizonte nítido, com navios e ilhas repletos de detalhes.
Resta pouco inverno, treze dias, se contarmos hoje, e a primavera já se manifesta efusivamente. A proa de um cargueiro cruza uma haste vertical fincada na praia. Passam-se 55 segundos antes do extremo de sua popa atingir o marco. Na média, os grandes transatlânticos demoram, quando trafegam por perto, entre 45 e 60 segundos para percorrer seu comprimento.
Apraz-me ficar a ver navios...
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Mon, 10 Sep 2018 13:22:14 -0300
Oi, Clôde
Adorei! E me lembrou um trecho de que gosto muito, de Fragmentos de um Discurso Amoroso, de Roland Barthes (você deve conhecer, é o autor de A Câmara Clara):
“Éramos amigos e nos tornamos estranhos. Mas é bom que assim seja, e não procuraremos dissimulá-lo ou ocultá-lo, como se disso devêssemos nos envergonhar. Tal como dois navios que seguem cada qual seu caminho e seu fim próprios: assim sem dúvida poderemos nos cruzar e celebrar festas entre nós como já fizemos - e então os bons navios descansavam lado a lado no mesmo porto, sob o sol, tão calmos que se diria já terem alcançado seu fim e sempre terem tido o mesmo destino. Mas logo depois o apelo irresistível de nossa missão nos arrastava novamente para longe um do outro, cada qual por mares, por paragens, sob sóis diferentes - talvez para nunca mais nos vermos, talvez também para nos vermos uma vez mais, mas sem nos reconhecermos: mares e sóis diferentes devem ter-nos mudado!”
Barcos são lindos (especialmente os veleiros!) e às vezes entristecedores: imigrantes acenando para parentes que ficam, ou “a saudade dói como um barco, que aos poucos descreve um arco e evita atracar no cais...”.
Bjs Ana
Oi, Ana.
Mais adorei eu! Muito obrigado pelas lindas imagens em ti evocadas!
Conhecia, si, o "Fragmentos" e, é óbvio, comprei "A Camara Clara" logo que lançado, primeiro em francês e, depois, em sua versão, para a biblioteca da enfoco, mas não lembraria (e não lembrei!) o trecho tão bonito e poético.
Experimentei, quando adolescente, a grande emoção na partida de um navio, com acenos e lenços, por frequentar o cais do porto, vizinho do Colégio de São Bento, onde estudava. Não conhecia ninguém que partia com o som grave dos apitos do navio nem qualquer das pessoas a acenarem do cais e, mesmo assim, vieram-me lágrimas "inexplicáveis".
Adoro o trecho de música que você destacou. De novo, merci.
Mon, 10 Sep 2018 20:19:18 -0300
ADORO você contanto como fica a ver navios, lindo lindo lindo, me senti aí em Copacabana, pés na areia? você estava com os pés na areia à beira mar? Linda foto, muito oportuna para a crônica, assim como a cor do título e da sua camisa na foto que eu tirei alguns anos atrás, aqui em casa, acho que num dia de Natal.ADORO você contanto como fica a ver navios, lindo lindo lindo, me senti aí em Copacabana, pés na areia? você estava com os pés na areia à beira mar? Linda foto, muito oportuna para a crônica, assim como a cor do título e da sua camisa na foto que eu tirei alguns anos atrás, aqui em casa, acho que num dia de Natal.
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Obrigado.
Não, as espumas estavam um pouco distantes...
Adoro ver-nos do ponto de vista da Estação Espacial. Todos os dias olho um pouco e copio algumas imagens.
Gosto bastante de sua fotografia, isto é, de minha foto feita por você. Obrigado. Não lembro mais quando foi feita...
Mon, 10 Sep 2018 21:37:55 -0300
Que belas imagens de navios indo e vindo no horizonte. quando um escritor conta a gente vê. obrigada Clode.
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Obrigado eu, por sua atenção.
Quando um leitor é bom, vê até mais do que se escreveu.
Venha ver com seus olhos!
Mon, 10 Sep 2018 18:43:52 -0700 (PDT)
q bom q vc curte ver navios ... qdo for aih, quero q vc me ensine um pouco sobre os ventos sempre fiquei boquiaberta qdo uma pessoa dizia "eh o sudoeste" ou o "sudeste" ou o fosse
bjs
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Por que é bom que goste de ver navios?
Você não aprendeu com a "Rosa do Ventos!, no primário?
As bandeiras e os coqueiros, aqui, mostram o tempo todo a direção do vento...
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