Crônica do dia

O segundo e-mail foi contundente. Para mim, é claro, mas que fazer, é maiuei, como cantava Sinatra e aportuguesou um amigo, ao batizar sua empresa, nos anos setenta.

O segundo e-mail dizia o mesmo que eu dissera, na véspera e quase com as mesmas palavras, ou melhor, o fazia com mais poesia. Ora, direis, apenas uma coincidência significativa, das tais que Jung assim chamou em sua Sincronicidade. Mas me deixo atropelar...

Não deixei claro que a mensagem de hoje, e que acabo de ler, não veio do destinatário da outra, para quem contei que, se não respondo a um e-mail na hora, ele permanece, sem que eu saiba, a cozer em fogo brando e alguma mão, de fada ou bruxo, mexe o caldeirão até que, de repente, me espanto com a resposta pronta e esplendorosa.

Pouco depois vinha confissão de reciprocidade: "igualzinho .... eu leio e não respondo de pronto. dai eu saio na rua. ou vou jantar. ou subo pro quarto. e é quando me lembro do que devo falar ...."

Tudo isto só comprova que o inconsciente, pelo menos para certo tipo de pessoa, trabalha com mais eficácia do que a razão em plena consciência - ou que é preciso, pelo menos, lhe permitir, ao inconsciente, participar da festa. Por fim, hoje me chega este segundo e-mail, que atravessou o oceano, cruzou sem brindar o equador e, é óbvio, veio de outra pessoa para contar a mesma história!

"Às vezes respondo e-mail dentro do ônibus e dou o fato como feito. Fica a sensação de já ter respondido, o que é fato, mas como as pessoas ainda não usam a telepatia como meio de comunicação, fica a falta. A sensação de ter respondido é tão real, que acabo esquecendo de escrever a resposta."

Sim, vivemos à beira do precipício, Em vez de nos protegermos atrás grades, melhor seria arrancá-las para que monstros e fantasmas venham das profundezas a nos socorrer, como o senhor inconsciente...