Acolá e amanhã
07/11/18
O telefone celular em seus aperfeiçoamentos de híbrido de computador, câmaras e telefone, ocupa papel central na vida das pessoas neste novo milênio e sua importância têm sido estudada por diferentes prismas. Ontem ocorreu-me outra faceta desta extensão de nossos sentidos, posterior à análise de McLuhan. Antes de enunciar a faceta, lembro ter-se ressaltado, na década de sessenta, a visão da tradição e filosofia orientais sobre nos atermos ao aqui e agora, à realidade do que é, aos fatos presentes sem embarcar na profusão de falsas realidades possibilitadas pelas ideias, realidades fabricadas pela imaginação e que são, em última análise, palavras. Pois bem, ontem me ficou claro quanto esse pequeno e fascinante instrumento pode ser eficaz na distração de seu usuário, eclipsando-lhe a realidade do local e momento. O poder das ideias de plasmar ficções se amplia com o telefone portátil e suas múltiplas conexões. Como é fácil ser "transportado" para muito longe pela "presença" de amigos ou pelas "realidades" projetadas na pequena tela! Os riscos para quem dirige ou quem caminha na cidade enorme foram muitas vezes apontados quando, concomitantemente, se divide a atenção com o admirável aparelho. Além de tudo que sabemos ser a pequena maravilha continuamente aperfeiçoada, ela é também um eficiente instrumento para a fuga de si mesmo. Além de toda utilidade ali embutida abre-se com ela caminho largo, plano e bem calçado para o entretenimento mais literal, como via de fuga do autoconhecimento.
Claro, qualquer coisa ao redor pode servir de meio de fuga, pode nos entreter e dificultar o acompanhamento do aqui e agora. Apenas aponto o quanto toda tecnologia compactada no aparelhinho amplifica as possibilidades de fugir do que, há milênios, tanto nos desafia. Pergunte ao oráculo de Delfos. |
Wed, 7 Nov 2018 13:56:45 -0200 Oi, Clôde Oi, Ana. |
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