Ao irromper sem se anunciar, como sempre, solene como nunca, primo Nicolau puxou do bolso de trás da calça um pedaço de jornal dobrado e amassado que começou a ler como vigário no púlpito:
Falava, é óbvio, do acidente que estremeceu uma nação, o povo, não governantes, autistas por deficiência ou necessidade e farsa. Cheio de energia, continuou: - Veja, primo, no meio da perplexidade incomensurável de milhões ante a tragédia, a advogada do Zé diz uma besteira dessas! Ainda por cima fala como um... e disse palavra que calo, para não ofender seja quem for. E falou mais, o Nicolau e vociferou outros termos que omitiria se lhe tentasse reproduzir tudo que disse. Continuou, furibundo:
- A rapidez do contágio de uma gigantesca população - ponderou o transtornado primo - para levar Jung a detectar, agora, o inconsciente coletivo, se ainda não o tivesse apontado e o que se vê é essa cria da todo-poderosa Eminência Parda receber medalhas e mimos e dar uma entrevista destas! Disse, sacudindo-me o pedaço de papel amassado, um caderno da Folha de ontem, com a entrevista da Diretora da Anac, a advogada Denise Abreu, à Mônica Bergamo. Denise se notabilizou ao ser fotografada, no apagão aéreo do reveillon, na festa do governador eleito da Bahia fumando um dos charutos cubanos distribuídos aos convivas... A tudo ouvi perplexo e, mesmo antes de ler qualquer coisa, cobrei: peraí, advogada do Zé? Que Zé? - Do Zé Dirceu, ora, quem mais? |
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