de esporadicidade imprevisível
Águas de Fevereiro
23/02/18
Chove uma chuva fraca, uniforme e persistente. O galinho higroscópico adquiriu uma coloração violácea acinzentada. Parece indeciso. (Do outro lado do fim do mundo, ele ficava dias a fio com sua tonalidade extrema cor-de-rosa, indicativa de saturação de umidade.) A soma dos ruídos das quedas de cada gota de chuva cria um peculiar fundo musical, uma música não convencional escrita ao léu no infinito pentagrama da Natureza. O volume aumenta, a chuva se intensifica. É o ciclo da água aprendido nos bancos escolares, onde a mesma água se mostra em diferentes fantasias, ora cristalina e pura a escorrer entre bosques, depois salgada a preencher os grandes vales planetários para, então, se elevar rumo ao Sol como invisível vapor e agregar-se — tanta água! - nos múltiplos desenhos e cores do manto da Terra feito de nuvens até o momento do retorno, gota por gota, floco após floco, como indutor e alimento da Vida. Apesar de continuar a chover uniforme e mais intensamente, clareia-se a abóbada e a luminosidade se intensifica. São as gigantescas torres de nuvens a se deslocarem com vagar sobre nossas cabeças. Nas viagens aéreas, muitas vezes podemos olhá-las de cima em seu aspecto monumental, sob diferentes luzes e sempre magníficas. Oceanos inteiros a boiar pelos ares sem asas nem motores. Aguardam sua hora e vez, desabarão segundo as circunstâncias como benesse ou tormenta, como nevasca ou irrigação, como água de beber ou inundação. Por fim a chuva raleia, cai fina e quase em silêncio. Os noticiários relatam transtornos no trânsito da cidade, devidos a alagamentos. Existe o temor de desmoronamentos. Por outro lado, o calor forte dos últimos dias arrefeceu. A chuva serviu também para bloquear o sol intenso e direto e, assim, refrescar um pouco as vésperas de março e suas águas lindamente celebradas. |
Sat, 10 Mar 2018 17:32:34 -0800 (PST) nossa, Clode, q bonito sem assinatura Que bom que você gosta! |
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