Crônica do dia
Publicação esporádica, a perder-se como berro de vaca, que todavia muge, apesar da inutilidade declarada de seu berro.

 

Tempos azuis

03/09/10

Anunciam para breve o fim dos tempos azuis. Não aludo à cor do céu, a esse tom tão essencial ao bem-estar do espírito, mas aos ares de verão, porém sem chuva, em pleno inverno. Ontem, coisa raríssima, a temperatura em São Paulo estava maior do que no Rio de Janeiro, apesar das pedras magníficas que lhe guardam calor. Chamei de azul a esses tempos pela cor do galinho lisboeta, azul máximo a indicar os atuais extremos de secura do ar.

galinho lisboeta
galinho lisboeta

Ao contrário, agradam-me algumas conseqüências, como prolongar o desfolhamento natural da estação e, com isto, o aumento da insolação: menos vegetação, mais sol e mais visão: descerram-se as cortinas vegetais e o longe do horizonte imenso de outrora se vislumbra em trechos entre o mato que resiste.

Outra benesse da escassez de água no ar é a ligeireza com que a roupa seca na corda - em minutos ou horas, conforme o vento e o tipo de tecido. Do lado de cá do fim do mundo, sempre úmido demais, é uma bênção esta estiagem, esta seca.

Na certa, dia virá quando clamarei por chuva, mas, por enquanto (e sobretudo depois dos dilúvios do ano passado e começo deste), que se louvem as venetas intempestivas do clima a nos propiciar estes deliciosos dias azuis.

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