Alvorada
17/09/11
Encantadora manhã de sábado! Voltarei a dormir, certamente, pois foram pouco mais de três horas de sono por enquanto, mas a visão do raiar deste dia, com ventos, sol e céu azul, azul pálido por enquanto, impediu-me de correr de volta ao leito. No primeiro momento, um fundo muito luminoso e amarelado se destacava, miúdo, de um primeiro plano agigantado e escuro de muitas árvores: era a encosta oposta, voltada para o nascente, a luzir dourada. Algumas nuvens apagavam e acendiam o spotlight de ouro que destacava detalhes isolados da vegetação próxima: uns ramos de uma árvore, outros de outra, todos acenando de quando em quando, segundo as rajadas de vento.
Aos gritos, passou um casal de papagaios - sim, é inferência dizê-los macho e fêmea, podem ser dois amigos ou duas amigas, mas faz mais sentido serem marido e mulher: a natureza cuida com zelo da vida das espécies, com muito mais eficácia do que Noé. É possível ouvi-los todas as manhãs. Às vezes, pousam por perto e a gritaria acorda facilmente dorminhocos como eu, que os descobri assim, cada um pousado e gritando no topo de uma das coníferas plantadas na rua (não por mim!), rente ao muro. A encosta oposta se esbranquiça gradativamente. A luz dourada do primeiro momento perdeu rapidamente esta qualidade, testemunho de uma atmosfera mais limpa, fruto da varredura de ventos, pois chuva há algum tempo não cai. Passado o surpreendente momento dos primeiros raios de sol, calam-se muitas vozes, sossega um pouco a passarada. Às vezes as rajadas são fortes e as árvores, todas com folhas novas, agitam-se como passistas em roupas de lantejoulas. Multiplicam-se galhos e copas pintadas por luz. Raramente, cai ainda uma folha morta retardatária. O viço e a palidez das folhinhas enche a cena de alegria e adianta a primavera, a poucos dias daqui. Vou dormir. |
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