Por mais que a razão discurse depender a felicidade disso e daquilo, por mais que a lógica argumente ser felicidade função de tais e quais condições, um eventual estado de bem-aventurança, a sensação de plena satisfação e bem-estar nos acomete pela emoção, não é coisa lógica ou racional.
Um dia, somos tomados por esse estado precioso ou nos descobrimos felizes ao despertar. A alegria nos invade, abrimos janelas do quarto e da alma para a inundação de toda luz. Por quê? Por que... Cuidado! Buscar razões pode pôr tudo a perder.
Para muitos só pode existir uma explicação: fomos vítimas de uma paixão. À própria existência de tal elã em nós, do sentimento ardente de vida a transbordar, se costuma chamar paixão - 'gosto ou amor intensos a ponto de ofuscar a razão' - diz o dicionário.
Seria, pois, imprescindível uma razão embaçada, uma limitação do discernimento para nos sentirmos felizes? Só quando perde um pouco o juízo se pode experimentar uma consciência plenamente satisfeita? Ou, como assinaloue Jung, o rebaixamento do nível mental nos possibilita percepções que, de comum, não sentimos?
A maior parte das pessoas vive a maior parte do tempo longe deste estado peculiar, dessa exuberância cheia de energia, dessa disposição inesgotável, não só de espírito mas, também, física, enfim, desse deslumbramento com a vida.
É muito provável que seja este o objetivo último de cada um, mas por não estar ele claro e explícito, é fácil se perder com ninharias, intrigas e enredos do dia a dia.
Um dia, faz tempo, saímos pela porta dos fundos e o cão acudiu, como de costume. Ralhei com ele por qualquer razão, já não lembro, e ela comentou: não sei como você pode falar assim com ele. Ele que é a própria alegria.
Sim, observei a partir de então, era mesmo sempre cheio de alegria e, supõe-se, irracional.
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