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É uma pergunta difícil: "você escreve suave, bonito... mas por que cada vez menos?" Por que rareiam estes textos? Seria fácil dizer apenas não sei, ignoro o motivo, ou motivos, da progressiva escassez do que, no início, se pretendia cotidiano como o pão nosso de cada dia. Intriga-me também a questão e, por isto, tomo a liberdade desta tentativa de resposta pública, caso algum outro leitor também tenha notado a míngua. O mais fácil seria atribuí-la a falta de motivação. Para esta seria fácil arrolar longa lista de por quês. O dia de céu azul e sol beleza ainda me deixa boquiaberto , mas pondero não ter cabimento repetir-me contente por esta ou outras ninharias equivalentes. Isto é, vem-me o impulso e logo o descarto por corriqueiro e, mais que isto, para evitar a repetição obsessiva "do berço ao túmulo", como repetia Nelson Rodrigues. Talvez, também, pela repetição das mesmas aves, dos mesmos cantos, da mesmas florações na sequência das estações. Por exemplo: se já contei de meu espanto com a gritaria de um papagaio. A volta de papagaios baderneiros não me parece mais motivo para tomar a pena, não do psitacídeo, mas a outra, metafórica, do computador máquina de escrever... O mesmo se poderia dizer de outros temas, inclusive do ataque às torres gêmeas, agora distante dez anos, que, no célebre dia onze, precedido do mês nove, no jeito norte-americano de ser, é, hoje, motivo para um exagero de recordações, tanto que parece celebração, que, dizia, no dia 11 deu alento a uma fantasia à guisa de crônica. Mas, talvez tudo não passe de consequência do envelhecer e, por isto, ser incapaz do novo, de sacudir de si todo o acúmulo dos anos e conseguir olhar a vida, sempre surpreendente, com novos olhos, aptos ao inédito, pois cada segundo o é. Como disse, é difícil justificar a escassez... obrigado por ajudar. |
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