Segunda-feira, 26 de novembro de 2007, 16 horas e 25 minutos - Faz-se mister acender as luzes. Dentro de casa parece noite fechada. Troveja ao longe. Os primeiros pingos ecoam de leve nas folhas.
16:38 - Todas as plantas acenam para o vento que passa...
16:39 - De repente, chove. A chuva chega forte, oblíqua, a riscar o mundo com ventos de sul, sudeste. Rajadas mais fortes inclinam as árvores.
16:41 - Chove forte, cai muita água.
16:44 - Gradualmente a chuvarada amaina, mas relâmpagos que não se vêem arranham o que o rádio transmite.
16:51 - Clareia aos poucos. A água, agora, cai vertical em leves riscos de luz.
16:55 - Pára de chover. Depois, alguns pingos insistem, ensaiam-se novas pancadas, leves, entre trovões cada vez mais distantes. Já se pode ver bem dentro de casa. Impõem-se apagar as luzes, afinal, são apenas quatro horas pelo horário solar, quase cinco no horário de verão. Gotas grossas, agora, tamborilam outro ritmo. Muitas pendem como diamantes de ramos finos, de frágeis volutas de trepadeiras. Algumas ofuscam os minúsculos frutinhos perolados que pássaros costumam buscar, ressabiados, numa epífita que deu em tronco morto, muito perto de uma janela.
vidas se entrelaçam em quinze minutos opacos...
A formosa dama que lê isto já se deu conta: enfim, uma crônica! Literalmente, ao pé da letra, mero registro de fatos comuns em ordem cronológica. E quê?, apenas uma tempestade de verão, nem sequer uma tormenta, apenas uma rápida pancada, de cenho fechado, olhar carrancudo.
Cada vida humana se entretece em crônicas possíveis, passageiras como a nuvem que por aqui chegou, apagou a luz do dia, choveu e se foi resmungando trovoadas. Bilhões de vidas também se entrelaçam numa infinidade de "quinze minutos" opacos, sem divulgação ou fama, sem luzes ou confeitos de Hollywood.
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